quarta-feira, 31 de julho de 2013

Deu na mídia: Escola Estadual Marquês de Sapucaí , em Delfim Moreira, é bom exemplo em revista nacional



Em julho deste ano, o Projeto Escola Estrada Afora, da Escola Estadual Marquês de Sapucaí, foi visitado pela consultora pedagógica de gestão escolar, da revista Nova Escola, Maura Barbosa. A cada bimestre, ela visita uma escola para conversar com diretores e coordenadores pedagógicos a respeito de diferentes problemas que afetam o dia a dia da gestão. O objetivo da consultoria é ajudar a escola e mostrar exemplos de boas iniciativas que podem servir como referência para outras escolas.

A escola estadual da rede pública de Minas Gerais da cidade de Delfim Moreira, no Sul de Minas, foi escolhida pela especialista, que conversou com os professores, diretores e coordenadores sobre “Organização de trabalhos em grupo no Ensino Médio”. O primeiro vídeo da série já está disponível no site da revista e aborda, com a equipe da escola, como escolher os temas dos trabalhos em grupo nessa etapa educacional e assegurar as condições para que eles sejam realizados.

No vídeo, Maura faz algumas considerações e dá dicas para o desenvolvimento dos projetos. Segundo ela, é importante observar, na definição do tema, o que queremos que os alunos aprendam. Além disso, é inevitável que seja feita análise do que os professores querem ensinar. Também, devemos ter em mente quais são os possíveis colaboradores que o projeto pode ter, de maneira que possam enriquecê-lo em cada etapa. E que os alunos devem participar de todas as etapas. Devem estar todos envolvidos, além de definir o produto final e quem é o destinatário desse projeto.

Nas próximas semanas, os outros vídeos da série serão publicados. Os próximos três episódios abordarão o envolvimento dos professores de ensino médio nos projetos, as estratégias para envolver os alunos nas iniciativas e como divulgar e avaliar os produtos desenvolvidos nos projetos.


Disponível em: http://ead.educacao.mg.gov.br/ditoefeito/editorias/ver/deu-na-midia-escola-estadual-marques-de-sapucai-em-delfim-moreira-e-bom-exemplo-em-revista-nacional

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Crônicas da Cidade




A riqueza do marmelo
Quando se fala da produção de marmelo e da atividade econômica daquela época, cabe adicionar que nos meados do século XX a produção de marmelo em Delfim Moreira era tamanha que aqui se instalaram algumas das maiores fábricas de processamento de alimentos do Brasil: a PEIXE, a CICA, a PAULETTI, a COLOMBO, que concorriam e trabalhavam conjuntamente com as grandes fábricas locais: a Mantiqueira, a Frutiminas, a Fruticultores, além de outras menores e de outras em bairros afastados.
 As campainhas das tropas de burros avisavam a passagem delas pelos caminhos e pelas estradas ocupadas com os jacás carregados de marmelo a caminho das fábricas.
A cidade respirava o cheiro de frutas frescas, as cozinhas rescendiam a marmelo e as sirenes das fábricas anunciavam horário das refeições e avisavam o trabalho à noite – o SERÃO alegre e competido. O som de cada uma das sirenes era claramente identificado pelos moradores. Como a safra ia pelo verão adentro, o fim do ano era marcado pelas sirenes. Era tradição de todas as pessoas irem à janela ou saírem à rua para ouvir, no último dia do ano, as sirenes das fábricas em coro uníssono e envolvente a tocar a passagem de ano. Era o som do emprego, do salário, da confiança, do feliz ano novo, que não volta mais.
Conta-se que a população do município de Delfim Moreira era o dobro da de hoje.

Eduardo D Soares




Aula de História 


-Bom dia, meus alunos! Que tal, hoje em nossa aula, voltarmos no tempo para conhecermos melhor a história de Delfim Moreira? - Professora, gostaria de saber porque Delfim é conhecida como cidade do marmelo. Eu nunca comi marmelo, nem doce, nem sopa, nem nada! 
-É, Júlio, essas e outras histórias estão no fundo do baú. Há quase cem anos, uma mudinha frágil de marmelo chegou aqui e , em algumas décadas, desabrochou mais de 600.000 pés. Logo , Delfim Moreira estava enfeitada de um amarelo tão vivo que chegava ao tom de dourado e brilhava por todo o vale. O marmelo foi o nosso pomo de ouro, que quando capturado pela 1º vez, abriu portas para uma " nova era" de muita prosperidade. 
A fruta que estimulou o desenvolvimento da cidade era transportada pelos burros de carga até as fábricas, onde um novo e delicioso processo se iniciava, a fabricação da marmelada.
Os finais de tarde eram sempre de muita agitação, principalmente com a circulação dos turistas que vinham a procura de uma sensação única: o doce aroma do marmelo que exalavam as fábricas, ao fim de mais um dia de trabalho.
- Professora Mariana, mas quem foi a brilhante pessoa que trouxe a mudinha do marmelo?? E onde é que o trem entra na história?? 
- Então Gabi, foi graças ao Barão de Bocaina que a mudinha chegou aqui. A produção da polpa de marmelo foi tão grande que estimulou a construção da ferrovia e a chegada da Maria-fumaça. Quando o trem passava no corte, fumegando e fazendo QUICK QUICK, o anúncio de sua chegada fazia com que rapidamente pessoas de todas as idades se juntassem, em especial os jovens, para vê-lo na estação, quando parava para descarregar lenha ou outra mercadoria qualquer e logo ia embora... E, assim, tudo isso se repetia dia após dia. 
Aos poucos, tudo foi se acabando e o marmelo já não era mais tão importante... A Maria- fumaça foi descartada, com a abertura das estradas ... Tempinho esse, que ficou marcado na história e na lembrança de quem viveu e conheceu essa época de ouro. 
- Mas professora, o que nós como delfinenses podemos fazer para que essa história não se perca no tempo?? 
- A primeira coisa que devemos fazer é sentir orgulho de sermos delfinenses, por termos o privilégio de morar em um lugar encantador e, principalmente, por fazermos parte da construção do seu presente e futuro. 
Galerinha, e para encerrar a nossa aula de hoje, nunca se esqueçam que " o marmelo foi o combustível para nossa cidade". Espero que, agora que vocês já tenham essa visão da nossa história, não deixem de compartilhar com as futuras gerações. Afinal, isso é questão de identidade cultural. Lembrem-se de que não podemos voltar ao passado, mas que tudo se eterniza em nossas lembranças. Até a próxima aula! 

Mariana Sapucci

Miguel : o visitante


Ai ai... Aqui de cima a cidade que já era pequena fica ainda menor, por mais que venha neste lugar todos os dias, meu olhar não se cansa. Quando jovem só pensava em ir para Rio de Janeiro, New York, ou até mesmo para o Texas nos EUA... Mas hoje só queria uma nova reencarnação e nascer nesta cidadezinha , Delfim... Ou melhor, na grandiosa Delfim Moreira, pois é farta de belezas naturais... 
Ah, aquela cachoeira em que íamos todos os finais de semana, aquela água cristalina... Tudo bem, que ela não era tão, tão, tão cristalina assim, mas dava pro gasto... Aquela cruz “miúda”, que quase não dá pra ver daqui, é uma cruz simples, mas que tem muita história pra contar. Naquele lugar sempre me sentava para apreciar o pôr do sol. O esforço ao subir o morro valia a pena; para mim era só alegria. O lusco-fusco irradiava as montanhas, feixes de luz e de cores como se o amor se fundisse com a natureza, numa só harmonia, e ela calma e serena... 
Agora que desci e estou aqui, tão perto da cruz , já não é mais a mesma coisa, depois de morto não consigo tocar, não consigo sentir, não consigo usufruir dos bons ares e nem dos preciosos sentimentos...
Para mim , tudo mudou e nada está mudado... Vejo tudo como era antes, mas ainda vejo algo mais, novos prédios, um casarão verde ao chão - nossa , eu gostava tanto de me sentar nos degraus dessa casa centenária para apreciar o movimento da cidade - que quase sempre não tinha! Algumas fábricas... opa! será que o marmelo está de volta?! Acho que não, mas quem sabe, né?... Mas a “minha cruz” continua a mesma de sempre, simples, caindo aos pedaços, mas é tão valiosa...
Algumas coisas não mudaram... ouça... é no alto falante da igreja ♪♫♪♫♫♪Estou pensando em Deus, estou pensando no amor... ♪♫♪♫♫♪,nota de falecimento: comunicamos o falecimento de … 
- Quem morreu? 
- Nossa ! É lá do bairro....
- Era casado? Era rico? Morava mais pra cá ou mais pra lá? Tinha Filhos?
- Calma compadre... Coitado! Trabalhou tanto e vai deixar seu patrimônio para outro.
- Que outro?
- Uai, viúvo é quem morre...
- ‘Tadinho’ ,morreu igual um passarinho...
- De pedrada?
(...)
Que estranho, agora há pouco eu ouvi um estrondo: “BROOOWWW!!!!”, acho que vai chover... Isso me lembrou o dia da minha passagem. Não era um dia qualquer, era um dia chuvoso, eu estava voltando com minha família para Delfim, eram umas 23h... Uma lágrima esquenta meu rosto, e a tristeza toma conta do meu ser - algo inédito- e a partida... Saiu até no jornal ‘A Voz da Montanha’ :“(...) às 23h46min, a cidade já estava a descansar, cada um em sua humilde residência... Um acidente: um ônibus ao ultrapassar uma carreta, bate num carro de passeio que capota e cai barranco abaixo. Alguns feridos, outros ilesos, mas apenas um morto...” Tentei ser forte até o fim, mas perdi muito sangue... Até que fecharam meus olhos...
Uma mão suave acomoda-se em meu ombro, e uma voz calma, e com leve tom de seriedade fala comigo:
- Miguel, estás de volta a este lugar ?
- Arcanjo, a saudade falou mais alto...
- Tudo bem, mas não podes ficar tão longe do Paraíso... Agora vamos, pois sabes o que acontece se o “Poderoso” te descobres, né?
- Sei sim, já estava de partida mesmo...
Sem Arcanjo perceber, eu sequei minhas lágrimas, e com ele voltei para o Jardim Celestial ...
Ó pobre leitor, um dia eu voltarei para lhe falar como é o Paraíso ou, quem sabe, para acompanhá-lo na travessia...

Afonso Araújo


O Curioso e o Orgulhoso 

–Delfim Moreira?
– Sim!
– Onde fica?
–Entre as montanhas... As mais belas e esplendorosas do sul de Minas Gerais. O Portal da Mantiqueira cujas cachoeiras encantam os olhos. Não há nada mais bonito de ser ver : a variedade de flores e árvores, o contraste das cores, a agitação da fauna silvestre... 
– Ah sei, mas nunca tinha ouvido falar dessa cidade...
-Não sabe o que está perdendo; ela é tudo de bom, além de ser uma cidade histórica e muito aconchegante.
– Histórica? – pergunta o Curioso, um tanto desconfiado.
– Sim, é histórica! É tão antiga quanto Mariana – responde o Orgulhoso com tom de arrogância, até franzindo as sobrancelhas – Delfim já foi aconchego para os desbravadores e também já foi palco da revolução de 32 e fonte de inspiração para muitos livros de memórias...
– Mas as cidades históricas de Minas não são Ouro Preto, Sabará, Mariana, Diamantina e Tiradentes...
Contradizendo as palavras do Curioso, o Orgulhoso retruca meio irritado:
–Sim, essas são as cidades mais conhecidas, mas Delfim também não deixa de ser histórica com seus grandes casarões de séculos que já serviram de hospedaria para a Princesa Isabel, tendo também um povo que, com grande honra, recita a cidade em grandes ou pequenos versos como se fosse um pedacinho de céu.
-Então a cidade deve ter um rico patrimônio histórico?
- Bem, você ainda vai encontrar alguns casarões antigos e a estação ferroviária que, inclusive,foram tombados . Você já ouviu falar que Delfim Moreira foi a maior produtora de marmelo do mundo?
- Não.
- Pois é,a cidade chegou a produzir 12 milhões de quilos de marmelo por ano. E isso trouxe grande desenvolvimento para a cidade, principalmente entre os anos 1940 a 1960.
- E o marmelo acabou?
- Sim e não. Porque atualmente há alguns produtores investimento nos marmeleiros...
–Nossa, que interessante! Quer dizer que indo visitar sua cidade a gente pode resgatar um pouco da história do Brasil colonial e imperial como também das fábricas de doce do século XX?
– Claro que pode, ainda mais quando você se pegar numa boa prosa com alguém , aí tudo fica mais encantador. O delfinense adora contar essas histórias. Vive de lembranças. Guardam histórias das mais comoventes, engraçadas e nostálgicas , principalmente da época do trem que por aqui passava...
–Que legal, mas o trem não existe mais?
–Não. Assim que foram abertas as rodovias, facilitando o tráfego dos caminhões, a ferrovia foi desativada. Soube também que uma enchente teria levado parte dos trilhos e o governo não investiu na restauração . Mas, hoje, a estação está toda conservada, virou um Museu de Memórias.
–Bem, se o marmelo acabou e as fábricas estão desativadas, hoje Delfim Moreira vive de quê?
–Atualmente,nossa cidade tem investido nas atividades turísticas
–Interessante, mas ela tem infraestrutura para atender esses novos empreendimentos de turismo?
– Claro que sim. Já tem propriedades privadas investindo nessas atividades e gerando emprego para a população. Além do mais, o poder público não fala de outra coisa... 
–Nossa, então as coisas por lá tendem a caminhar bem. Se continuar assim, o futuro de Delfim Moreira promete, hein!?
– Sim, também tenho certeza disso, nossos jovens não deixarão a cidade morrer! Você sabe que Delfim Moreira ainda mantém a tradição das quermesses? O ano inteiro tem festa em quase todos os bairros rurais. Cada capela tem seu santo padroeiro o qual é homenageado com muita oração, baile-forró, pastel de milho, cartuchos de doces e leitoa assada. É tudo de bom! Ah, mas a melhor de todas é a Exposição Agropecuária que, no mês de julho, atrai muitos turistas para prestigiar shows de primeira qualidade. É só cantor e dupla de sucesso.
–Ah, então vocês delfinenses são felizes, afinal, são bem animados pra festas hein?
– Sim
Ao fim da conversa, o Orgulho apoia as duas mãos em sua bengala de madeira lavrada, ajeita sua boina, e abaixa um pouco os óculos olhando para o curioso, e dá a ele um conselho:
– Meu filho, agora é com você, vá conhecer as belezas de Delfim Moreira e se encantar com o simples e rico município mineiro. É lá que encontrei minha maior riqueza, minha esposa, com quem já estou casado há 52 anos. 
– Quero conhecer sim, pelo que o senhor falou é um lugar encantador realmente. Agora, vou me despedindo porque já estou chegando ao meu destino. A viagem passou rapidamente, e eu aprendi um pouco sobre sua majestosa Delfim Moreira. 
E quando sai do ônibus, o jovem curioso, decide ligar para um amigo a fim de convidá-lo a visitar Delfim Moreira, no próximo feriado, mas percebe que seu celular estava sem bateria, pois tinha esquecido o fone de ouvido ligado , enquanto se deleitava com as histórias do velho delfinense orgulhoso, durante toda a viagem.
Ricardo Batista

A Entrevista

Na tarde de domingo, resolvi ir à casa de meu avô perguntar como era Delfim Moreira nos tempos de outrora, afinal precisava de matéria para meu trabalho de escola . Não tinha como escrever uma crônica sem ter conhecimento dos fatos do passado.
Encontrei meu avô sentado na velha poltrona: 
- A benção, Vô! Hoje vim bater um papo com o senhor sobre aquela época que o senhor sempre lembra, quando plantava marmeleiros aqui em sua propriedade. O senhor não se importa de me contar novamente?
- Claro, aqueles tempos nunca saem da minha memória... Sabe, naquele pedaço de montanha ali, tinha centenas de marmeleiros,e eu ,seus tios , inclusive sua mãe trabalhamos muito na manutenção e na colheita do marmelo para vendermos à Colombo.
- Vô, essa plantação dava lucro?
- Confesso que no início dava lucro sim, mas a manutenção do marmelal foi ficando muito cara e, além do mais, uma praga atingiu os marmeleiros aqui da região. E o pior é que o remédio que matava essa praga,além de caro, só se comprava em São Paulo. Para você ter ideia, seu bisavô tinha que vender muitos e muitos quilos de marmelo para comprar um “ galão” de 20 litros desse produto... Aí, quem não desanima! 
- Puxa! Nunca pensei nisso, sempre acreditei que a causa do declínio tivesse sido o clima, que esquentou muito aqui em Delfim Moreira...
-Seu Bisavô era o maior fazendeiro da região e depois dessa crise do marmelo, ele começou a criar gado holandês e vender leite, porque o clima era favorável e o leite estava com bom preço.
-Ahh, mas não foi só ele que optou pelo gado de leite, né?
- Não, muitos proprietários de terra investiram na pecuária leiteira, que hoje também não está grande coisa...
- Enquanto às fábricas, só restaram as ruínas... Puxa, Vô, o senhor não sabe o quanto essa conversa foi importante para mim. Agora já sei como começar o meu texto...

José Guilherme Valim


Encanto da Mantiqueira 

- Olá, mãe. 
- Oi, filha, como foi a aula? 
- Foi muito boa mãe. A professora estava falando do potencial turístico de Delfim Moreira... acredita que eu nunca pensei que a cidade tivesse condições para desenvolver o turismo? 
- Ah, tem sim, filha. Delfim Moreira, apesar de aparentar um município pequeno, possui uma área muito grande coberta por florestas virgens da Mata Atlântica, e por isso reserva lugares belíssimos para se conhecer: são diversas cachoeiras, picos, fazendas, bosques e, claro, muita história. Uhmm... falando de história, não podemos esquecer do Marmelo... Delfim já foi a maior produtora de marmelo do mundo, e isso é motivo de orgulho para nós. 
- Do mundo, mãe ? 
- Sim, filha, era uma época de muita riqueza, pena que teve um fim... mas agora a economia da cidade está tomando outros rumos. 
- Como assim, mãe? 
-Bom filha, como você mesmo chegou dizendo, Delfim Moreira está apostando no turismo, já que não temos mais as fábricas de doce. O nosso município é lindo, sim, temos vários parques para visitação como Cruz das Almas, Mirante Cruzeiro do São Bernardo, Pedra Malhada , mas o que falta ainda é investimento na infraestrutura. 
- Mãe, você conhece esses lugares? 
- Conheço o Casarão da Barra, sede da fazenda mais antiga do município, construída por escravos, em estilo Português. Na frente da casa existe um porão bem alto, com três portas voltadas para uma plataforma de pedras com escadas, possivelmente para o embarque e desembarque de mercadorias (pertence à família Ribeiro). Também já estive na Fazenda Boa Esperança que se localiza na divisa do vale do Paraíba, inserida na área de proteção ambiental da Serra da Mantiqueira, seu grande patrimônio natural é a água. Sabe, na época do frio, as baixas temperaturas tomam conta do cenário, as geadas chegam a deixar as montanhas brancas como neve. Alguns moradores da região detectam nos termômetros que é uma das cidades mais frias do estado... não é à toa que nossa cidade é conhecida como “Encanto da Mantiqueira”. 
- Nossa, mãe que legal! Eu não imaginava que Delfim Moreira tinha toda essa riqueza. Vou comentar com a professora sobre a possibilidade de divulgarmos, através de cartazes e panfletos, os pontos turísticos de Delfim Moreira. De repente, podemos até criar um site de divulgação... 
-Então filha, não deixe toda esta beleza natural e valor histórico de Delfim Moreira passarem despercebidos, pois esta cidade abençoada por Deus precisa de incentivo para se desenvolver cada dia mais. 
- Valeu mãe, vou dar um “rolê” e já volto para jantar. 
-Não demore, filha. Estou preparando canjiquinha, feijão, torresmo, quibebe e couve. Também fiz o doce de gila que você adora. 

Cláudia Fortes 

Questão Cultural 

Vinte anos depois, cheguei em Delfim Moreira. Dirigi-me à pousada , olhei para todos os lados; vi a antiga fábrica Colombo. Como a cidade mudou! Está mais bonita agora... senti uma saudade imensa de minha avó e lembrei-me da comidinha caseira que ela fazia: toucinho com farofa, canjiquinha com costelinha, e um pastelzinho de milho..... e os doces que gostosura!
Como eu gostava de vê-la preparando aquelas receitas. Era doce de gila, de cidra, de marmelo , doce de leite, figo... ah.... eu não resistia , e ficava por lá só para comer a sobra que ficava na panela. Como era bom! 
Para preparar o doce que eu mais gostava tinha que ralar a cidra, deixá-la de molho, depois escorria-se a água e apurava a polpa com açúcar; para dar mais gostinho, um pouquinho de canela e servia-se com queijo. Era uma delícia! 
Já minha mãe gostava muito da marmelada e da sopa de marmelo.E como era trabalhoso preparar o doce de figo, mas era tudo de bom. Hum... aquele cheiro... não tinha nada igual. 
Tudo que eu queria agora mesmo era degustar todos esses doces, essas ‘mineirices’, depois de tanto tempo. Já sentia a água na boca... 
Depois do almoço, louca para me deliciar com os doces que só existiam em Delfim Moreira, chamei o garçom e perguntei-lhe o que tinha para sobremesa, ao que ele respondeu: 
- Gelatina. 

Carla Adriele

Marmelo 

- E aí, filho! Como foi a aula?
- Pai, a professora falou que Delfim Moreira foi um dos principais produtores de marmelo.
- Sim! é verdade filho.
- Como é o marmelo?
- O marmelo é uma fruta azeda, amarelo-dourada, formato igual ao de uma pera, é bastante aromático e, quando cortado, fica escuro rapidamente. Ah, uma curiosidade ele também era chamando de " pomo-dourado".
- E o marmeleiro era uma árvore grande, pai?
- Não, filho, o marmeleiro é uma árvore de tamanho médio, com vários galhos e poucas folhas. Ainda há alguns pés por aí. Qualquer dia desses eu mostro pra você.
- Ah tá pai. Pai, eu achei interessante saber que Delfim Moreira foi um dos maiores produtores de marmelo no Brasil...
- Sabe filho, as primeiras mudas de marmeleiro quem trouxe foi o Barão da Bocaina, lá de Portugal, e essas mudas foram plantadas no bairro São Francisco dos Campos e também no Córrego Alegre, mas foi só em meados do século XX que a produção se expandiu e trouxe progresso para cidade.
- Nossa pai, era tanto marmelo assim?
- Sim, meu filho, o clima aqui era muito mais frio do que hoje,e o marmelo adora frio. Houve um tempo em que se colhiam 13 milhões de quilos de marmelo. E as fábricas de polpa que tinham aqui, como a Cica, a Colombo e a Fruticultores deram emprego para muita gente...
- E por que acabou a produção de marmelo tão rapidamente, pai? Eu não entendo....
- Ah, meu filho, é que o clima mudou, está mais quente, agora; e outra coisa, o preço caiu e os produtores pararam de cultivar porque a manutenção era cara. Daí a economia entrou em declínio.
- Entendi!! Mas é uma pena, não é pai?
- Nossa, e como viu filho!! O pior é que ninguém fez nada, só ficaram assistindo a tudo isso calados... Agora vai brincar lá fora vai!
- Tô indo ....
- Não entra muito tarde!!
-Pai ?
- O quê, filho?
-Planta um marmeleiro aqui no quintal?                                                                                                                                       Francis Machado

No ônibus

Lá vou eu, num ônibus, pensando nas minhas coisas... O cobrador gritando, que chateação... “Vamos lá para frente! Tem lugar na frente! Não acumula aqui atrás não”! Como estou sentada, observo como as pessoas acatam o pedido, avançando para os espaços vazios no corredor do veículo. Entre eles há um jovem bonito, que esconde o rosto embaixo de um capuz. Ele vai à frente, muito perto do meu lugar e do motorista. Acho estranho, parece que eu o conheço... Mas de onde? Estou pensando nisso quando ele olha para mim e dá um sorriso. Respondo com um simples: “Oi tudo bem?”
-Tudo bem- diz ele achando graça- mas eu acho que você não está me reconhecendo!
Ai que constrangimento! Sorri amarelo, não disse mais nada e lhe dei as costas. Fiquei olhando na janelinha e imaginando de onde o conhecia!
Ah, me lembrei! Acho que ele foi um colega de classe, se chama...hum... deixa eu ver... Afonso! Isso. Afonso. Nossa, há quanto tempo não o vejo! O ônibus para num ponto de rotina. A pessoa que estava sentada ao meu lado se levanta e desce. O jovem bonito que acho ser o Afonso, senta-se do meu lado e diz:
- E aí, agora se lembra? - Sorri
Fiquei sem saída.
-Sim. Como posso esquecer-me de um velho amigo...
Olhando fixamente para mim:
- Você é a Jaqueline. Ou estou me confundindo?
- Sou eu mesma. E você é o Afonso, né?
Ele olhou e sorriu.
- Eu sabia que você não estava me reconhecendo! Sou sim.
- Ah, é claro que sabia, só não lembrava seu nome. Recordei de você por causa do livro que escrevemos quando estávamos no 1° ano do ensino médio. A professora fez tanta festa quando a sua crônica inspirou o título do livro... Oficina do Lapidário. Você ainda tem esse livro?
- Ah, sim. Guardo esse livro como uma relíquia. Ler, escrever, reler, reescrever, revisar, ufa! Deu trabalho para nós, né!? Tenho saudades daquela época.
- E eu sinto saudades também de Delfim Moreira e das pessoas de lá. Só gente boa; pessoas simples... Faz tempo que não vou para lá, e você?”
- Não tenho ido.
- Um dia desses, vamos dar um pulo lá para matarmos a saudade!
- Tudo bem! Quero mesmo ir a Delfim Moreira. Leio o meu livro, ou melhor, o nosso livro e fico pensando nas histórias da cidade. Ah, que saudade...
-Que pena, Afonso, vou descer no próximo ponto. Me passa seu número... O meu é 88665544, tá! Assim que fizermos contato, marcaremos o dia para tomarmos um chopp na Cervejaria Kraemerfass, e por que não um passeio pelas lindas cachoeiras? Isso também é cultura, é Delfim.

Jaqueline Silva



Domingo 

É domingo , e a cidade desperta ao som das canções religiosas . As janelas preguiçosas vão se abrindo, permitindo a entrada do sol em cada canto das casas que amanheceram tão frias... O escoar da água no banheiro... O cheirinho do café ... E a caminhada dos fiéis em direção à casa do Pai. A fé une os moradores de Delfim, ou reúne...
Os passos apressados sobem e descem morros para não se atrasarem. A celebração se inicia. Há sempre um preocupado ou curioso que persegue os ruídos. Uma mosca zunindo. Um cão com semblante de criminoso chega de mansinho... ele sabe que não é bem- vindo.
Um bêbado quase sempre é retirado pelas portas do fundo e, claro, os olhares acompanham a movimentação com sorrisinhos de superioridade. Pura hipocrisia nossa de cada dia! Que pena. Essa é a oportunidade vinda dos céus para nos mostrar o quanto nós, ‘os sóbrios’, somos ‘bêbados’. Uma tentativa de nos fazer aceitar as diferenças, de mostrar que Deus não ama apenas ‘os mansos’, os moralmente perfeitos – muitos acreditam que fazem parte desse grupo. Mas não, afastar o bêbado que invoca Deus em voz alta é uma atitude indispensável para que a missa continue verdadeira. E continuamos na necessidade de ritualizar a nossa fé, de atingir o perdão, porque no fundo todos sabemos que somos pecadores.
Mas nem todos gostam de rituais, isso é fato. Há aqueles que quase nunca vão à igreja... na hora da “paz de cristo” , muitas mãos vêm de todas as direções... não apertá-las seria falta de educação? Qual a intenção de arremessá-las tão longe? A quem pertencem? Não conhecemos... mas tudo bem, o momento é tão festivo!
Quantas orações que não sabemos rezar, gestos que não aprendemos. E a missa continua, formal e respeitosa.
Uma escritora disse uma grande verdade sobre a não necessidade de entender as coisas. Por isso, gosto dela. Entender para quê?
Fim da missa. Encomendar um almoço bem gostoso no hotel, gastar com ‘bobeirinhas’ no bar e naquela padaria para o desespero ou a alegria dos dentistas...
E o domingo continua com a preguiça que qualquer início sempre causa.

Lívia Venturelli

Uma viagem inesquecível

Estava em casa pesquisando em meu computador aonde iria neste final de semana, foi então que descobri uma cidadezinha de Minas, Delfim Moreira, e decidi que aquela seria meu destino.
No outro dia, de manhã, peguei meu carro e fui para Delfim. Cheguei lá por volta das dez horas e me hospedei em uma pousada de estilo alemão, e logo quis provar a famosa marmelada delfinense.
- Moço, me sirva marmelada, por favor! Ah, quero com queijo da fazenda!
-Não tem!
-Nesse caso, vou querer sopa de marmelo. Insisti.
-Se nem marmelo tem por aqui, como lhe servirei sopa de marmelo!? Sorriu ironicamente.
-Então, me sirva o doce mais pedido. Para minha surpresa, escutei-o dizendo para cozinheira:
-O moço vai querer gelatina!
Saí da pousada desapontado, mas entusiasmado para conhecer a Cachoeira do Itagyba.
Dirigi por pouco tempo por uma estrada de terra; depois, segui a pé por um caminho cheio de mato. No meu primeiro passo, escorreguei em uma folha e caí. Levantei rapidamente. Tudo o que passei valeu a pena, pois aquela cachoeira era a coisa mais bonita que já tinha visto. Empolgado, logo dei uma ponta na cachoeira, queria me esbaldar nas águas geladas da Mantiqueira, mas nessa brincadeira fiquei atolado no lixo. Nada abalava meu bom humor...
Assim que saí da cachoeira, resolvi me sentar, mas não encontrei um banco nem um quiosque. Sentei-me na grama.  Péssima ideia. Logo que sentei fui atacado por formigas, saí correndo e, na correria, acabei tropeçando em uma pedra e perdi minha unha. Então, fui para o posto de saúde da cidade. Contei o acontecido...
-Coitado! Não tem médico. Vamos ter que levar você para Itajubá. Disse-me a gentil enfermeira.
-Mas não é só fazer um curativo? De nada adiantou eu falar, fui parar no hospital-escola...
Ao retornar, ainda na rodovia, tentei ligar para um amigo e não havia sinal para celular.
Assim que cheguei, de noite, tomei um banho, e resolvi sair para me distrair. Não tinha pizzaria. Puxa, comer o quê? Resolvi ir à balada. O Clube estava fechado. Ninguém na rua. Fui dormir pensando em como seria meu domingo... Queria acordar com o canto do galo, mas fui acordado com música do Sérgio Reis, que anunciava o horário da missa. Diferente, né!? Quis visitar o Museu de Memórias, que foi inaugurado há alguns meses, mas ele nunca abriu para visitação. Jogar futebol com meu pé machucado não dava. Então, resolvi voltar para casa. Nossa! Estava sem gasolina e não tinha posto em Delfim Moreira. Felizmente, encontrei um litro de combustível em um bar. Vim embora pensando que realmente quem conhece Delfim Moreira não esquece jamais.
Shelmer Araujo

Rotina

Acordo despertado pelo cantar do galo, pelo velho cachorro da Dona Maria e pelo irritante som do despertador do celular de minha irmã. Consigo a todo custo me levantar, trocar de roupa e organizar meu material. De repente, ouço a buzina do ônibus que desce pela rodovia, e que logo depois voltará para nos apanhar. Confiro tudo de novo, apago as luzes e fecho a casa. Escondo a chave no “lugarzinho de sempre”.
Indo para a escola, passo pela mangueira onde meu tio , alegremente, tira o branco leite da manhã. Às vezes, quando me atraso, corto caminho pelo pasto do seu Wilson, deixando as cristalinas esferas do orvalho molharem meu sapato. No ponto, espero o ‘escolar’ com minhas irmãs e minha prima e lá jogamos conversa fora até ele, finamente, chegar.
Sentado no banco, preencho (às vezes) meu tempo lendo um livro. Quando chego à escola, trocamos umas idéias sobre as aulas e, em alguns casos, até contamos alguma piada. O sinal bate. Entro, tomo o café servido pelas simpáticas merendeiras. O sinal bate novamente. É hora de estudar.
Hoje na escola, nas aulas de história, aprendi que o nome Delfim Moreira é uma homenagem ao presidente da república e também que a cidade ficou marcada pela produção de marmelo e de outras frutas europeias, cujas sementes foram trazidas por um barão. Bem aclimatado, o marmelo enriqueceu muita gente, estendeu a ferrovia e fez a história da cidade.
Da ferrovia restou o apito do trem, a estação e os pontilhões ferroviários. Nem as tropas de burro ficaram para ilustrar o passado próspero da cidade.
Bate o sinal novamente. Outra aula. Mas as histórias continuaram reticentes...

Luis Augusto F. Guimarães




Crepúsculo

A gente acha que é fácil escrever uma crônica, mas nem tanto assim... Às vezes precisamos de inspiração, aliás, o essencial é a inspiração. E isso não me faltou, pois com essa cidade maravilhosa e cheia de belezas naturais, é impossível não se inspirar.
Depois de um dia com a casa cheia, à tarde eu não estava me sentindo bem. O motivo nem eu mesma sei, mas deve ser normal. Foi então que por acaso sentei em um banquinho do lado de fora da minha casa e dei uma “viajada”, por alguns instantes, até que me deparei com uma perfeita paisagem. Era o sol, bem longe, se despedindo e indo iluminar outras vidas, aquecer outros corações... Lá estava ele, piscando pra mim e a cada piscada, se distanciava e, assim, o céu azul claro, cheio de nuvens, se escurecia...
De lá também pude enxergar uma parte de Delfim Moreira, as casas com seus olhos tristes pelo abandono do sol, tudo coberto pelo verde e agora também por uma brisa leve, a brisa do entardecer... As luzes se acendendo e as pessoas voltando de seus trabalhos, das fazendas, das plantações de batata, dos retiros, das casas de outras famílias, alguns professores indo e outros vindo... Chegam cansados em seus lares, mas felizes por Deus ter lhes concedido mais um dia de vida e de trabalho. Em casa, aquele cheiro do tempero da canjiquinha e do caldo de feijão. No fogão, um bule cheio de café quentinho...
O barulho da mata e dos bichinhos...
Então percebi que já era tarde. Fui para dentro e comecei a refletir: quantas vezes o sol nasce e some dando lindos espetáculos para nossas vidas e muitos de nós morrem sem perceber... Mas mesmo assim, ele nunca desiste de brilhar!
Agradeci a Deus tudo que vi e fui dormir...

                                                                         Jaqueline Moraes 

Opinião

Declínio

            Dizem que a felicidade está onde o nosso coração e a nossa alma se encontram. Bem, a minha se encontra em Delfim Moreira e posso dizer que vivo em um paraíso desconhecido, imerso sob os templos dos ipês e araucárias; escondido pelas cortinas e véus cristalinos das cachoeiras selvagens sedentas por apreciação e júbilo.
            O fato é que enquanto pesquisava sobre minha cidade, tive de recorrer ao seu ilustre passado e não entendo como as coisas mudaram tão rapidamente ao longo do tempo. De um singelo arraial no sul de Minas descoberto por um bandeirante a procura de ouro, Delfim Moreira se tornou a grande preciosidade e a maior produtora mundial de marmelo. Uma joia que vivenciou conflitos internos por causa da padroeira Nossa Senhora da Soledade e se fez cenário da tal Revolução decorrida da “Política do Café com Leite”. Um lugar que foi movimentado pelos trilhos da Maria Fumaça que trouxe alegria em seus vagões, espalhou felicidade e semeou paixão nos corações joviais que, na onda dos vaivéns e dos tradicionais bailes com a Lira Delfinense, guardaram essas lembranças que,hoje, já estão escassas em suas almas congeladas pelas geadas , assim como a cidade.
            E o marmelo se acabou, a Maria Fumaça se foi e Delfim Moreira foi esquecida.  Poucos se importam em unir forças para ultrapassar a gruta da escuridão e do silêncio quase sepulcral. O passado histórico de Delfim Moreira ainda lateja clamando por oportunidades de desenvolvimento. Atividades turísticas? Talvez. Só espero que Delfim Moreira possa reinar novamente e, assim, exibir ao mundo todo o seu triunfo e beleza e,até  quem sabe  um dia, possa voltar a ser o que era antes. Mas isso depende da motivação de cada um de nós em  reavivar e fortalecer nossas raízes para que nossa cidade se desenvolva como uma árvore frondosa.
            Para Delfim Moreira, a única esperança é que o delfinense se comprometa em cultivar o progresso que  resista aos vendavais . Caso contrário,em nosso amanhã tudo nos será tomado e nada nos restará além de meras lembranças. Mas se a nossa força de vontade for maior e mais forte que o próprio destino, Delfim Moreira ainda viverá o resplandecer de uma era de luz e de prosperidade.

       Camila Sapucci

Preservação X Devastação


A questão do desmatamento no alto da Serra da Mantiqueira é uma problemática, que ao longo dos anos, já se tornou rotina. Por que afirmamos isso? Desde que nos conhecemos por gente estamos ouvindo falar de proteção ambiental, mas a devastação de nossas florestas naturais é algo assustador!
 Muitos de nossos antepassados já tinham o hábito de ver as matas nativas como uma alternativa de sobrevivência e de certa forma as tornaram produto de utilidade em suas propriedades, assim como fonte de renda. Acreditamos que, se não fosse a guarda-florestal, antiga denominação para um grupo de policiais que cuidava dessa questão com patrulhamentos, certamente hoje não teríamos nem a proteção das nascentes, tamanha a devastação.
 Delfim Moreira é coberta por uma área de 408,181km² e, pelo nosso posicionamento, já podemos perceber enormes espaços como o couro cabeludo desnudado pelo corte. Ah, as pastagens também foram ocupando espaços vazios, assim como as lavouras. Há aqueles que optaram pelo plantio de eucalipto, para extração da madeira, tipo de investimento que precisa de permissão ou licença.
Entretanto,no Novo Código Florestal que ainda está em trâmite no Congresso Nacional, um dos itens abordados é a proibição do corte de eucalipto plantado perto dos rios e nascentes, cuja metragem oscila entre 30 e 500m . Que encruzilhada, puxa! Parece que estamos em xeque...
Tudo bem, temos que nos preocupar e muito coma preservação da fauna e  da flora, como de todo o ecossistema, mas a garantia de sobrevivência dessas pessoas que sempre dependeram da venda de madeira tem que ser levada em conta, porque é aí que se estabelece uma grande problemática: o aumento de desempregados.
Diante desse impasse Preservação X Devastação, a política federal deveria estar planejandoalternativas de geração de renda para essas  famílias  . E por que não se preocupar com uma política de trabalho para toda a população? Além do mais, preservar as matas é contribuir para a conservação da vida do planeta. Todos nós sabemos que nossos legisladores trabalham em favor de uma minoria que detém o poder econômico, mas tem que haver uma saída para a maioria dos interessados...
Na tentativa de resolver essa questão, a escola é um caminho usado para conscientizar as pessoas usando meios como: palestras sobre preservação e educação ambiental, muita conversa em sala de aula e até mesmo cartilhasjá foram entregues para os alunos, mas  só que  não demora muito e as pessoas parecem não terem aprendido nada. É só observar as atitudes das pessoas em geral, para perceber que pouco ou nada entendem. E olha que até a igreja já trabalhou com essa temática com o objetivo de preservar e valorizar o meio ambiente, e nada!
Assim, se nem os religiosos, educadores e profissionais da área e, principalmente, os legisladores não conseguem apontar um caminho, atéo presente momento, frente a questão da preservação,  exploração e sobrevivência, o discurso acaba se tornando vazio. Mas uma coisa é certa: as iniciativas não podem ser tomadas isoladamente. Se o problema étambém global tem  que ter a participação de todos para além do congresso...
Por fim, o que não podemos é viver alienados, correndo o risco de nos tornarmos as próximas vítimas do sistema e da destruição.

Bárbara Mendes e Luciana Cortez


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Projeto Escola Estrada Afora: Alunos da cidade de Delfim Moreira contribuem para o resgate da história e cultura local

Nas manhãs frias da cidade de Delfim Moreira, jovens sobem uma trilha na Serra da Mantiqueira. Levam, nas mãos, cadernos, filmadoras e câmeras fotográficas. Quem assiste ao grupo reunido pode até pensar que se trata de um passeio turístico, mas, na verdade, os jovens participam de uma aula nada tradicional. No lugar do quadro negro, a paisagem local; e no lugar do livro didático, a voz dos antigos moradores da cidade. As atividades fazem parte do Projeto Escola Estrada Afora, da Escola Estadual Marquês de Sapucaí, localizada no Sul de Minas.
A iniciativa da professora de português e coordenadora do projeto, Ana Maria Alves, leva os alunos numa viagem pelo município em busca das raízes históricas e culturais da região. Com a experiência, os estudantes viram novos autores e narram, no jornal da escola, no blog e nas redes socais, o quê apuraram e descobriram sobre a cultura local, contribuindo para a documentação das histórias regionais. Cerca de 100 alunos do ensino médio participam da iniciativa.
As atividades fazem parte do Projeto Escola Estrada Afora, da Escola Estadual Marquês de Sapucaí, localizada no Sul de Minas.Crédito: Amanda Lélis
A aluna do segundo ano do ensino médio, Tainara Nunes, destacou a importância do resgate da história local por meio da memória oral. “Nosso projeto resgata a história do município. Não temos muitos objetos, relíquias, monumentos, mas a história está viva. A conhecemos nas entrevistas que fazemos com antigos moradores”, afirmou a jovem.
Iniciativa e resultados
A coordenadora do projeto, Ana Maria Alves, explicou que a iniciativa surgiu do entusiasmo dos alunos na realização de outros projetos da escola. “Implementei na escola o projeto Lapidar em 2011, no qual trabalhamos a produção de texto, e foi um sucesso. Tivemos participação em concursos culturais que levaram a premiações importantes para os alunos. O ‘Estrada Afora’ começou no final de 2012. Os alunos gostaram muito de participar da Olimpíada de Língua Portuguesa e ficaram muito entusiasmados com essa investigação da história, ouvindo os avós e outros idosos que conheciam, para produzir os textos. Então achamos interessante implementar na escola outro projeto que contemplasse essas pesquisas, que são matéria-prima para trabalharmos os gêneros textuais na sala de aula”, enfatizou a professora.
Toda a produção e pós-produção são feitas pelos alunos, que editam os vídeos, selecionam as fotografias e fazem até a diagramação do jornal. Crédito: Amanda Lélis
O projeto, mesmo com seu pouco tempo de existência, já vem dando resultados. Duas alunas que participaram do 1º Concurso de Redação e Poesia “Fábio Pereira”, promovido pelo Rotary Club de Itajubá e Academia Itajubense de Letras foram premiadas em maio desse ano. Tainara Aparecida Nunes alcançou o primeiro lugar no concurso e Camila Ribeiro Sapucci teve a segunda melhor redação. “Escrevi um texto sobre ‘analfabetismo ecológico’ a partir das visitas que fiz durante o projeto e fiquei em primeiro lugar. Espelhei-me nas histórias que conheci no projeto para a produção”, destacou Tainara Nunes.
Os alunos visitam a casa de antigos moradores para colher depoimentos em forma de entrevista em vídeo e áudio, que dão suporte para as produções de texto e em audiovisual que serão publicadas posteriormente no jornal “Prisma Cultural”, criado e produzido pelos alunos da instituição, e também no blog da escola. Toda a produção e pós-produção são feitas pelos alunos, que editam os vídeos, selecionam as fotografias e fazem até a diagramação do jornal.
O diretor da escola, Aurelino Xavier, ressaltou a importância do Projeto Escola Estrada Afora para o desenvolvimento dos estudantes. “Nossos alunos têm a oportunidade de conhecer o município de Delfim Moreira, promovendo uma interação entre urbano e rural, despertando neles o conhecimento pela cultura do município”, ressalvou o diretor.
A escola conta com a contribuição dos moradores de Delfim Moreira para a realização do projeto.  Crédito: Amanda Lélis 
Participação de colaboradores
A escola conta com a contribuição dos moradores de Delfim Moreira para a realização do projeto. Eduardo D`Soares é um simpático português de 67 anos que vive em Delfim Moreira há cerca de 14. Ele é dono de uma pousada no município e o interesse em levar aos turistas mais sobre os encantos da região o tornou um especialista da história do município. “Delfim Moreira tem uma história muito rica. Busco estudar sempre. A Família Real se hospedou aqui, a estrada de ferro trazia muita gente até a cidade, a Revolução de 30 se passou aqui também. Fui levantando todas essas histórias e agora compartilho com os jovens. Conhecimento a gente tem que passar pra frente. Na minha idade, é uma obrigação”, reforçou Eduardo D`Soares. 
No início de julho, por exemplo, foi a vez de seguir a trilha, por meio da vegetação na Serra da Mantiqueira, que leva até a Cruz das Almas, localizada a 1.300 metros de altitude. O local foi escolhido por ser uma espécie de monumento da cidade, que traz uma série de versões para a trágica história da morte de uma família. Embora não exista registro oficial que contextualize a real história da Cruz das Almas, as diversas versões já fazem parte do imaginário dos Delfinenses e estabelecem uma importante parte da cultura popular do município.
De acordo com Eduardo D`Soares, a versão mais correta para a história coloca Delfim Moreira no contexto da Revolução de 1930, em que São Paulo e Minas Gerais romperam a aliança conhecida como política do café-com-leite. “Tudo que se escreveu sobre a Revolução é com relação ao Vale do Paraíba, na frente norte dos paulistas. Mas muita coisa aconteceu aqui em Delfim Moreira. No alto da Serra foram construídas trincheiras que podem ser vistas até hoje”, afirmou.
“O inverno daqui naquela época era muito rigoroso. E essa revolução aconteceu no inverno, um tempo muito frio. A história que conhecemos é que veio uma senhora com duas crianças até esse povoado e subiu a serra, porque seu marido participava da guerra. Ela e seus filhos acabaram morrendo no local, por causa do frio no alto da serra. Um morador do município, por iniciativa pessoal, subiu até esse local e fez uma cruz simbólica e, com isso, o lugar que tinha história passou a ter uma referência de monumento”, completou Eduardo D`Soares.
Camila Ribeiro, aluna do segundo ano do ensino médio, tem orgulho de fazer parte de um grupo que contribui para a documentação da história local. “Buscando esses locais, entrevistando as pessoas mais antigas, a gente vai imortalizando a história da nossa cidade”, destacou a aluna.
Município: Delfim Moreira / Superintendência Regional de Ensino de Itajubá

Visita ao Bairro Cachoeirinha

Em direção à Cachoeirinha

Novos rumos a equipe do Projeto Escola Estrada Afora tomou e, desta vez, a viagem foi ao Bairro Cachoeirinha. Durante a jornada, desvendamos os mistérios de uma caverna onde muita gente supõe que haja vestígios arqueológicos, mas infelizmente, a caverna encontrava-se desmoronando...Também observamos magníficas paisagens que sofrem com as mudanças trazidas pelo homem.
            Ao chegar ao bairro, pudemos observar o quanto a água que corre no riacho está desaparecendo, causando até problemas para os moradores que criam peixes. A enorme cachoeira, que deu origem ao nome do bairro, hoje não passa de um filete de água que corre debaixo das pedras, o que entristece muito os moradores de lá. Afinal, as águas ficaram retidas na represa...
   Fotografia: Mateus C.Ribeiro
            Ao conversar com Dona Terezinha Coura, moradora do bairro, ouvimos as histórias de como era difícil ir para a escola no Barreiro ou em São Bernardo, já que as crianças iam a pé. As famílias eram numerosas e havia lavouras de milho, feijão, batata e ervilha, que com o tempo foram deixadas de lado, porque as pessoas mudaram-se para a cidade em busca de emprego.Porém, houve aumento da população do bairro, atualmente há em torno de 40 casas na Cachoeirinha, isso devido à melhoria da estrada que hoje encontra-se asfaltada.
              Seu Manoel Ribeiro relatou-nos que seus pais eram muito rígidos e que a formação dos filhos era bem diferente. Lá ele também cultivou muitas ervas medicinais e sua saudosa esposa fabricou muito sabão de cinza. Afirmou que há grande incidência de pessoas com hipertensão e diabetes e lembrou-se das enormes plantações de fumo que havia no bairro.  Fotografia: Mateus C.Ribeiro
Seu Geraldo também contou que o bairro já produziu muita goiaba, ameixa. Contou-nos que as crianças tinham caxumba, catapora, varicela. Falou das árvores predominantes no bairro: jacarandá e bico-de-pato. Ele confirmou que há vestígios arqueológicos em sua propriedade... Certamente que voltaremos lá para realizarmos o registro.
Infelizmente, pode-se perceber que o meio ambiente sofreu muitas mudanças, mas a Cachoeirinha ainda vai continuar lá ostentando as pedras que descansam tranquilas no leito do rio, enquanto as artesãs tecem seus crochês.
 Tainara Nunes





                         

                       
                           


Imagens: Mateus Ribeiro.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Visita ao Bairro Salto


No Salto


No dia 16 de maio, a equipe do Jornal Prisma Cultural fez mais uma visita ao Bairro Salto. Lá, visitamos o Sítio São Francisco e conversamos com o Senhor Francisco de Assis Almeida, o seu Chiquito que foi muito acolhedor e relatou-nos a história do bairro com muita simpatia.
Contou-nos que no início do bairro havia enormes pinheiros e que as crianças frequentavam a escola do Biguá. Falou-nos dos primeiros moradores que foram o seu Zé Benedito, que era tropeiro, e seu Franquilino; mostrou-nos o salto da cachoeira que corta as enormes montanhas, originando o nome do bairro, sendo atrativo turístico e motivo de orgulho para os moradores.
Sr Chiquito- um entrevistado muito especial
No bairro, cultivou-se feijão, arroz que era guardado num açude de taquara para dias mais tarde ser consumido pela família ou vendido; e o milho que foi o alimento característico da região. E com ele fazia-se fubá, angu, bolão ou podia ser assado na caçarola com brasa.
 As dificuldades enfrentadas pelos moradores eram as mais variadas: iam desde a estrada até a falta de médico, mas atualmente isso já não é um impasse para a população. O bairro oferece uma diversidade de belezas, há árvores raras como jacarandá e cedro, animais diferenciados como anu branco,gavião, macaco, veado, jaguatirica e vistas privilegiadas.
            A construção da igreja iniciou-se em 1934 e foi a maior alegria do povo. Houve também muitas doenças comuns como sarampo, varíola e até tuberculose. As crianças por muito tempo jogavam futebol todos os domingos com uma bola de meia até que conseguiram uma bola de capotão que era amarrada com correia, torta, dura, mas era a alegria da criançada.
Seu Chiquito relatou ainda que eles sempre ouviam falar em assombração: nas quaresmas saiam com matracas e rezavam recomendando as almas, nessa época aparecia o lobisomem - um cachorrão peludo que vivia comendo fezes, e quando encontrava um galinheiro levava todas as galinhas e as comia.
E ele relembrou com saudade dos tempos em que viajava de trem com sua mãe, do chefe que, às vezes, vinha fazendo brincadeiras com as crianças e também do famoso pastel da Dona Leonor, era um tempo muito bom.
        E ao final, ele posicionou-se a respeito do uso de drogas como o cigarro e bebida, dizendo que causam muitos danos à saúde, contou-nos que tem muita vitalidade porque sabe cuidar de sua saúde. Descobrimos também que ele é o grande artista do bairro e até hoje ainda trabalha como carpinteiro fazendo banquinhos e outras peças de madeira que mostram o quanto temos artistas no nosso município.


Tainara Nunes

   





                           

                         
   









Imagens: Mateus Ribeiro e Camila Sapucci.