Ana
Maria de Paiva Alves e Silva
Professora
de Português e Supervisora Pedagógica
I-
Justificativa
Os alunos da E.E. Marquês de Sapucaí estiveram muito envolvidos
com a OLP - Olimpíada da Língua Portuguesa no ano 2012, ocasião em que muitos
textos foram publicados no livro “Oficina do Lapidário” que é o produto final
do Projeto Lapidar – www.projetolapidar.com.br – manifestando muito
interesse pela temática ‘o lugar onde vivo’. E, à custa do entusiasmo pela
pesquisa e euforia pelo sucesso desse projeto, o corpo docente, em reuniões
coletivas, considerou producente a implementação de outro projeto que
contemplasse um estudo mais apurado acerca do patrimônio histórico-cultural de
Delfim Moreira-MG, já que os delfinenses pouco conhecem sobre suas próprias
origens.
Em síntese, o município de Delfim Moreira, que localiza-se no Sul
de Minas Gerais, nasceu em 1703, na cachoeira do Itagyba, com o nome de
Paróquia de Nossa Senhora da Soledade de Itagyba ; possui uma população de
aproximadamente 8.000 habitantes, distribuídos numa área territorial de 408,5
km2. Com a topografia predominantemente montanhosa, o centenário e
histórico município abriga em seus rincões 37 bairros rurais, cuja população se
dedica às atividades agropecuárias. Os nossos córregos descem apressadamente as
encostas, chegam e fertilizam as lezírias do Rio Sapucaí e se encerram na Vila de Pantalete, entre os municípios de
Paraguaçu e Três Pontas, quando se une ao Rio Verde e, juntos, formam um braço
da Represa de Furnas. Aqui em Delfim Moreira ainda existem os túneis das
minas de ouro do século XVIII, descobertas por Miguel Garcia Velho em 1703... O
Município foi palco de uma das batalhas da Revolução de 1932 que deixou suas
trincheiras e, em memória da família de um soldado, erigiu-se a Cruz das Almas;
também foi anfitrião da Princesa Isabel e do conde D’Eu que aqui fizeram sua
estada por duas vezes, em períodos de repouso. Durante décadas, foi o maior produtor
mundial de marmelo ; a cozinha local criou um cardápio de pratos - doce, sopa,
bombom e geleias de marmelo. Aqui foi
terminal de um ramal da estrada de ferro que deixou de herança o edifício da
estação e o nome da cidade. Os nossos casarões históricos resistem ao tempo e
teimosamente registram sua história.
Além disso, nossas florestas abrigam a diversidade da fauna e da
flora da Serra da Mantiqueira.
As origens de algumas das famílias são obtidas naturalmente na
evolução dos trabalhos. E todo esse patrimônio carece de um registro.
O Projeto “Escola Estrada Afora” vem atender a esse objetivo
contemplando a transversalidade que propõe uma educação cidadã a partir dos
elementos da história local e dos conteúdos escolares. Além do mais, as ações
desse projeto que se pautam em conhecer, observar e analisar os bairros e
regiões que compõem o município de Delfim Moreira-MG em seus diversos aspectos físico-geográfico
e histórico-culturais, oportunizam o protagonismo juvenil e a prática
empreendedora na educação.
Temas locais, como valorização do Patrimônio histórico-cultural,
constituem-se como a transversalidade necessária nas escolas, segundo os PCN-
Parâmetros Curriculares Nacionais. Por isso, oportunizar aos alunos a
identificação das origens e da história de cada povoado, assim como a
observação dos aspectos culturais os faz refletir sobre a historicidade como um
processo vivo, propenso a mudanças e, dessa forma, eles se sentem responsáveis
pela construção e reconstrução histórica do município.
Outrossim, a integração dos alunos com o lugar onde vivem,
ratifica que a educação é uma atividade social e que deve ser trabalhada para
além dos muros da escola, cultivando sensibilidade, emoção, empatia , respeito
pela diversidade e postura empreendedora.
Sob a coordenação da professora e supervisora Ana Maria Paiva e do
envolvimento dos professores e alunos do
ensino médio, a E. E. Marquês de Sapucaí realizou um valioso trabalho de
captação de informações, imagens e depoimentos que contribuíram para o
enriquecimento curricular dando visibilidade e relevância ao nosso município.
Toda a produção textual, imagens e vídeos produzidos durante a
visitação já estão sendo divulgados,
através do jornal da escola – O Jornal Prisma Cultural – e através
das redes sociais https://www.facebook.com/marques.desapucai.3?fref=ts e http://escolaestadualmarquesdesapucai.blogspot.com.br/ como “produto
final” do projeto, que na verdade tornou-se um projeto institucional
permanente, já que suas ações têm se
multiplicado a olhos vistos dia a dia. Vale ressaltar que esses veículos de comunicação são
ações empreendedoras articuladas e manejadas pelos próprios alunos.
Através do Projeto Escola Estrada Afora, a E.E. Marquês de Sapucaí
assumiu sua função social, junto à comunidade, oportunizando aos jovens o
protagonismo em seu processo de aprendizagem.
II-
Objetivos
O Projeto Escola Estrada Afora visa promover a
observação e a análise do espaço geográfico e histórico do município de Delfim
Moreira-MG, de forma que os alunos aprendam a pesquisar,
a coletar dados e a registrar as informações coletadas, através da diversidade
de gêneros textuais, da edição de vídeos e da organização do acervo de
fotografias.
As ações desse projeto visam
estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender na realidade os
conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as
questões da vida real (aprender na realidade e da realidade), adquirindo
habilidades com a utilização de recursos tecnológicos.
Dessa forma, o projeto pretende
despertar nos envolvidos o interesse pela cultura do município e estimular a
reflexão sobre a pesquisa histórica como processo vivo e propenso a mudanças;
além do respeito pelo patrimônio cultural e pelo meio ambiente.
III-
Conteúdos
Durante as visitas aos bairros, observa-se a diversidade de
plantas e animais que compõem a fauna e a flora da Mata Atlântica na Serra da
Mantiqueira; os rios, o relevo, as pedras que compõem a paisagem, as atividades
agropecuárias, os empreendimentos turísticos, assim como a postura dos
moradores em relação ao lixo - assuntos que têm sido abordados nas aulas de
biologia e geografia.
Em relação à arte, a observação dos casarões antigos, com suas
janelas e portas coloniais, assoalhos de tábuas largas, que serviram como
cenário da história das famílias pioneiras, está interligada aos fatos
históricos de Delfim Moreira. Da mesma forma, o período áureo do marmelo, a
história que está por trás da construção de cada capela, os causos, os fatos
tristes e alegres que marcaram cada comunidade, as habilidades dos artesãos, o
talento dos músicos e repentistas costuram a identidade cultural do município.
Os conteúdos de sociologia são aprimorados quando se analisa os
aspectos de organização e de convivência de cada comunidade; e os da filosofia
quando se faz a identificação das origens e da história de cada povoado, assim
como a observação dos aspectos culturais que promove uma reflexão sobre a
historicidade como um processo que se renova a cada dia , para que os alunos se
sintam responsáveis pela construção e reconstrução da história local.
E nas aulas de Português são redigidos, além dos roteiros de
entrevista, os relatos (diário de bordo), as reportagens, as crônicas, as
notícias, os artigos de opinião, os editoriais, as poesias etc., com intuito de
compartilhar todo conhecimento apreendido com a comunidade escolar.
IV-
Metodologia
As
ações do Projeto começaram a ser esboçadas ainda no final do ano de 2012.
Fez-se um quadro para composição das equipes que era composto dos seguintes
elementos:
a) responsáveis pelos contatos - contato com moradores dos bairros e com
o secretário do transporte para agendamento do ônibus escolar etc.;
b) responsáveis pela elaboração dos roteiros de entrevistas e
reportagem;
c) equipe da redação - crônica, notícia, relato da entrevista, diário de
bordo, texto descritivo, charge, artigo de opinião, memórias, causo etc.;
d) responsáveis pelas fotos e produção e edição de vídeos; diagramação
do jornal e blog da escola.
E, assim que teve início o ano letivo
2013, esses quatro grandes grupos foram subdivididos, para que houvesse função
para todos os envolvidos. Os alunos do 2º ano do ensino médio e seus professores de história e de português
realizaram um planejamento de visitação e elaboraram roteiros de entrevista com
base em informações prévias sobre os entrevistados.
Utilizando
o transporte escolar, uma ou duas vezes
semanais, o grupo visitava o bairro no contraturno para não atrapalhar o curso
normal das aulas. Durante a visitação,
além das entrevistas, os educandos realizaram um passeio a fim de observar e
registrar através de filmadora, câmera digital e diário de bordo todos os
aspectos relacionados à cultura local: história, a geografia, as atividades
agropecuárias, hábitos da população, aptidões artísticas, crenças, fauna e
flora, trato com o lixo etc.
Para contemplar a comunicação oral e escrita
das suposições, dados e conclusões, os alunos, além de serem os responsáveis
por coletar todas as informações por meio das histórias contadas, discutiam em
grupo, visando o reconhecimento das transformações do município, para depois
partirem para a produção textual, seleção de fotos e edição de vídeos para
apresentar o município em seus vários aspectos, através do “Jornal Prisma Cultural e
das redes sociais https://www.facebook.com/marques.desapucai.3?fref=ts
e http://escolaestadualmarquesdesapucai.blogspot.com.br/ da Marquês. Esses veículos de comunicação, além de
atribuir função social à escola, servem de estímulo para a releitura e
reescrita dos textos, com intuito de aprimorá-los e, consequentemente,
desenvolve também as habilidades da língua portuguesa.
Cabe
ressaltar que o interesse e a aptidão dos alunos para o uso da tecnologia
favoreceu bastante as ações do projeto. Todo o percurso teve como suporte as
ferramentas tecnológicas que vão desde a câmera digital, tablet, notebook, aos
programas de software como CorelDraw entre outros, provendo assim a inclusão
digital. E mais: os alunos do 2º ano já conseguiram envolver alunos de outras
turmas da escola nesse grande empreendimento educacional, e o que era para ter
um fim e/ou uma culminância em forma de exposição acabou se tornando uma
semente que já está sendo cultivada com expectativa de que, no ano de 2014 ,
todas as turmas da escola estejam envolvidas com alguma ação que transforme a
cidade em espaço de aula.
V-
Avaliação
Nessa primeira fase do projeto, a avaliação se
fez sob a óptica da organização, da convivência, do compromisso e da atuação de
todos os elementos envolvidos com as ações, assim como da postura reflexiva e
crítica acerca dos fatos e situações abordados.
Os
professores - em grupos alternativos - acompanharam os alunos em todas as
visitas aos bairros, orientando-os e atuando também como coadjuvantes no
trabalho de investigação e registros; da mesma forma, acompanharam e se envolveram
com a diagramação do jornal e com o manejo do blog. E o mais
importante: as visitas aos bairros estão promovendo o enriquecimento das
disciplinas curriculares. O professor de arte que sai para registar a
arquitetura dos casarões antigos já começa a enxergar a possibilidade de
trabalhar as artes plásticas utilizando material seco colhido na floresta.
O
professor de Química, já iniciou um trabalho interdisciplinar com o professor
de Biologia, organizando uma Coleção Entomológica para estudos e pesquisas de
laboratório, assim como a constituição de um Herbário.
Os
professores de matemática estão planejando o Projeto ‘A Geometria na Natureza’
e o professor de Geografia está
trabalhando uma proposta que implica a avaliação da situação da moradia
, da saúde, da segurança etc na cidade, através de enquetes - tabulação de dados , elaboração de gráficos e
divulgação no jornal , além de propor um roteiro ilustrado ( mapa narrativo) em
que apareçam todos os espaços significativos para a comunidade rural e urbana.
As professoras de língua portuguesa estão envolvidas
com o Projeto Cartas, cuja finalidade é
estabelecer relações entre os alunos do 8° ano da Escola Estadual Marquês de
Sapucaí, de Delfim Moreira/MG com os alunos do tempo integral da Escola
Estadual Sebastião Pereira Machado, de Piranguinho/MG por meio de cartas. Neste
contexto, os alunos irão se apresentar e contar histórias da cidade e do bairro
onde moram, para tanto serão necessárias pesquisas e entrevistas acerca da
cultura local. A escrita das cartas além de promover o resgate e a valorização
dos aspectos histórico-culturais da cidade ainda promoverão o desabafo e a
criação de vínculos entre os redatores e ainda contemplarão diversos gêneros
textuais dentro da carta. Ao final do projeto, eles se conhecerão pessoalmente.
Os
alunos também manifestaram muito interesse pelas atividades, por isso
compromisso e dedicação consistiram apenas num detalhe. Um ponto que chamou
muito a atenção do grupo foi a educação e a fineza dos estudantes com as
pessoas entrevistadas, fossem elas idosas ou jovens, simples ou sofisticadas,
empresários ou trabalhadores do campo.
Outro
ponto relevante foi o desenvolvimento de uma postura reflexiva e crítica acerca
do contexto histórico do município, das atividades agrícolas e da ação humana
sobre o meio ambiente (dois textos
redigidos neste contexto com o tema “Analfabetismo Ecológico” foram premiados
pela Academia Itajubense de Letras e Rotary Club de Itajubá –MG num Concurso de
Redação) ; sobre o êxodo rural e o êxodo da juventude; a capacidade de retenção
de mão de obra, os empreendimentos turísticos, entre outros aspectos que
impulsionaram as seguintes sugestões:
ü
Colocar placas indicativas dos
bairros e edifícios
ü
Colocar placa adicional nas ruas
descrevendo quem foi o titular da rua
ü
Criar pontos de ônibus com
cobertura e bancos
ü
Criar um órgão de orientação
jurídica aos habitantes
ü
Criar centro de teatro
ü
Criar grupo tradicional de canções
e músicas
ü
Criar um centro de lazer para o
idoso
ü
Reunir a cozinha local para manter
as tradições dos pratos de marmelo e de pinhão
Mas
o Projeto Escola Estrada Afora atingiu seu ápice quando,
naturalmente, enfatizou problemas de
ordem ambiental e social :
a)
Ambiental - Na visita ao Bairro Sengó, os
moradores chegaram a fazer uma denúncia muito grave acerca da atitude de
açougueiros que depositam carcaças bovinas e suínas nas margens do rio que
desemboca na represa da usina hidrelétrica ‘Ninho da Águia’ – maior furo de
reportagem. E também quando partiu dos próprios alunos propor uma parceria com
a Secretaria Municipal do Meio Ambiente para realizar um trabalho de
conscientização sobre a necessidade da reciclagem e dos cuidados com o lixo, na
comunidade urbana e rural.
E também foram sugeridas pelos
alunos outras ações que poderiam ser cuidadas de forma gradativa:
ü
Dispor recipientes de lixo
separados por cor
ü
Plantar árvores na cidade
ü
Reportar qualidade da água
ü
Revitalizar o Parque Cruz das
Almas
b) Reconhecimento Social – Ao conhecer a casa de Luiz Augusto Fernando Guimarães – aluno que
teve seu texto classificado em 1º lugar no estado de Minas Gerais, no 42º
Concurso Internacional de Redação de cartas promovido pelos Correios - http://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/jornal-da-eptv/videos/t/edicoes/v/estudante-de-delfim-moreira-mg-ganha-premio-internacional-de-redacao/2595530/
- toda a equipe do Projeto Escola Estrada Afora foi tomada
por intenso sentimento de comoção, empatia e solidariedade, mediante tamanha
carência. O grupo imediatamente iniciou uma campanha para dar uma vida digna à
família de Luiz Augusto. Assim, a vida do jovem escritor da E.E. Marquês de
Sapucaí já começou a se transformar: cesta básica, roupas novas, enxoval,
tablet, computador, internet, móveis, uma casa nova que a empresa Correios já
está providenciando, uma bolsa de estudos (curso de graduação). Isso é educação
de valores, é compromisso social, é formação cidadã.
Por tudo isso, foi muito bom ver professores e alunos
comprometidos em transformar esses dois contextos intencionando promover a
preservação ambiental e a equidade social. Isso demonstra responsabilidade
pelos destinos da vida coletiva; prove a valorização individual e social pelo
reconhecimento e sistematização das informações, bem como a exposição e
notoriedade que os valores locais vão ganhar ao se exporem; e, acima de tudo,
cria o sentimento e o orgulho de pertinência a Delfim Moreira.