Mês
de janeiro. Era um domingo fosco segurando a chuva. Saí para dar uma
caminhada... Tinha de ir ao sítio do Caquende.
E,
preocupado com o objetivo da visita, nem havia me dado conta de que o Pedro que
estava comigo era um passarinheiro, com carteirinha do IBAMA e tudo. E ficou
claro que aqui, na Serra da Mantiqueira, há muitos pássaros.
A
distância até o Sítio é de uma milha. Lá fui acompanhado carregando 120 anos de
existência, meio a meio. O Pedro parou e começou a falar baixinho. “Escuta,
escuta”. Aí foi que despertou como seria grande o meu passeio. Parei e escutei.
“Um Sabiá”. Falou o Pedro. “Ele tá naquela árvore, olha,olha, voou para cima do
telhado da casa velha ali, ali, viu? viu? é aquele. Tá lá”.
Paramos
como se tivéssemos quatro anos a contemplar o passarinho atento, que distante,
sabia que estava de ator principal no palco dos nossos olhos. Sabia sim. Ele
olhava consciente como quem diz: “Eu também tô de olho em vocês”.
A
conversa ficou boa na hora do sabiá. Ele é tamanho 3+. Para entender o tamanho deste passarinho
vamos fazer o seguinte. Canário é tamanho dois. Certo? Tem muitos sabiás: O sabiá do campo tem topete,
tem o sabiá una, tem o sabiá laranjeira
ou de peito vermelho, tem também o sabiá de peito branco. “Aquele é o sabiá” e
apontou. Eu encolhido no meu noviciado, nem me atrevi a perguntar “Qual deles é
esse?”. Mas ele tinha a aura de inspiração dos cantadores do sertão. A aura estava
lá e voou com o sabiá por onde ele ia.
Voou
mais para longe e nós caminhamos, falando do tempo, do lugar, das pessoas,
conversa de quem sabe que o tempo é eterno. Virava e mexia falava-se de
passarinho.
“Canário
da terra tem o cabeça- de- fogo. Agora
tem muitos. A molecada não caça mais”. Agora ensinam na escola. “Tu tá vendo
aquela casa ali?” Na várzea do Dé. Deve
ser a quinta casa da rua de terra. No fundo do quintal, o dono cria canário e
solta ali mesmo. Agora tem muitos. “Tem também o canário pardinho. É o outro”. É
explicação cabal para quem é do ramo. Tenho de pesquisar para saber.
Depois
da venda do Dé, tem um ponto de ônibus, e, ao lado tem uns arbustos. Ali, neste
lugar, pegou para valer o passarinheiro que está dentro do Pedro.
Aquele
ali é o Negamina. “Você já ouviu falar dele?”
A resposta é obvia, e não precisou ser feita. O Pedro elaborou com
cuidado a minha falta de conhecimento: “É que tem gente que conhece como “Maria
Preta”, nunca escutou?”. E precisava responder? Eu comecei calado e terminei
mudo. “Ele também tem o nome de “Chopim”. E ficamos pasmados a olhar por cinco
minutos o galho da planta que sustentava principescamente o Negamina, cognome,
Maria Preta, também intitulado de Chopim. Era eu tentando decorar a tríplice
certidão de identidade do estrelato.
Negamina
é tamanho três. É um pouco maior.
Tamanho
um é o “Bigodinho”. Apareceram vários com a faixa preta. Tipo manhoso,
serelepe, esperto e sisudo. É arisco e vem beber água no tanque, de atrevido. O
Bigodinho fala muito de si. Tem expressão.
Na
entrada do Caquende, o som era claro. “Esse é o Curió. Está chamando a fêmea”.
Que chegou logo em seguida. Mas são diferentes o macho da fêmea. Tamanho dois.
“Curió se conhece pelo bico”, explicou o Pedro. Apesar de que ele identificou
na hora pelo canto.
O
Azulão, tamanho 3, vive no brejo na beira da mata mas fora da mata. “Fizeram
ninho lá no Canto do Caipira” comentei. Este Azulão estava perto do laguinho.
Aí veio o esclarecimento catedrático: tem o Azulão de lista azul na cabeça, o
Azulão de topete vermelho, e o Azulão ”limpo”. Mais claro o Pedro não podia ter
sido.
O
Coleirinha também é bom de conversa. O
Coleirinha macho canta para chamar a fêmea que chegou. O Pedro me explicou que
tem também o Coleirinha australiano. Isto agora é assunto para pesquisa. Saber
como é o primeiro e o estrangeiro.
A
Rolinha estava na cerca da casa onde mora o Renato. Bem, o Renato saiu e agora
quem mora lá é o Jeguinho, aquele que o Prefeito colocou lá sem pedir licença e
que já saiu também. Era um casal de Rolinhas, que voavam pelo pasto. E pousavam
donas do lugar.
O
Pintassilgo canta perto, disse o Mirinho, morador de vinte anos no sítio. É
verde de cabeça preta. Mas não apareceu. Nem o Trinca-ferro, nem o Chanchan nem
o Pixarro, nem o Bichôlolê, nem o Lourenço, nem o Melro que faz o ninho com
crina de cavalo.
O
Mirinho é que gosta do Pintassilgo e falou dele com gosto. O Mirinho mora no
Caquende com os passarinhos. Todos os pássaros o conhecem. Nas histórias que
ele conta dos pássaros, estes aparecem como personagens de verdade.
A
Mãe- de- Fogo é um pássaro vermelho. Raro de aparecer e lá estava ele bem na nossa
frente. “Olha, olha ele ali, esse veio” falou o Mirinho. Foi um espanto. Mas
era o Mãe- de- Fogo. Voou três árvores antes de sumir para o outro lado do
morro.
O
pássaro preto choca no brejo. Faz um ninho de barro. É assim com todos os Pássaros-
pretos. O João- de -Barro é de cor marrom, jeito manso, mas com postura de
metido e caminha empolgado.
Mais
adiante se escutou um canto “diferente”. Pedro parou, escutou, pôs a mão no ouvido em
vão. Frustrado disse. “Esse pássaro é de fora”.
Eduardo D Soares
Amigo
da escola,
empolgadíssimo
com o Projeto Escola Estrada Afora
Canário- da- terra
Comprimento:
13,5 cm. Muito conhecido e apreciado no Brasil, está presente do Maranhão ao
sul até o Rio Grande do Sul e a oeste até o Mato Grosso, bem como nas ilhas do
litoral de São Paulo e do Rio de Janeiro. Encontrado localmente também nas
Guianas, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Argentina.
É comum em áreas semiabertas com arbustos e árvores esparsas, como pastagens
abandonadas, caatingas, plantações e jardins gramados, sendo mais numeroso em
regiões áridas. Vive em grupos, às vezes de dezenas de indivíduos. Alimenta-se
de sementes no chão, empoleirando-se para cantar. Faz ninhos cobertos, na forma
de uma cestinha, em lugares que variam desde uma caveira de boi até bambus
perfurados. Freqüentemente utiliza ninhos abandonados de outros pássaros,
sobretudo do joão-de-barro. O macho é amarelo-brilhante, com uma mancha laranja
na testa; a fêmea é de um amarelo mais pálido, com menos tonalidade laranja na
cabeça. Conhecido também como canário-da-horta, canário-da-telha (Santa
Catarina), canário-do-campo, chapinha (Minas Gerais), canário-do-chão (Bahia),
coroia e canário-da-terra.
Melro
Comprimento:
21,5 a 25,5 cm. Excluindo-se a Amazônia, onde está presente apenas no leste do
Pará e Maranhão, é encontrado em todo o restante do País. Encontrado também no
Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. É comum em áreas agrícolas,
buritizais, pinheirais, pastagens e áreas pantanosas. Sua presença está associada
a palmeiras. Vive normalmente em pequenos grupos que fazem bastante barulho.
Pousa no chão ou em árvores sombreadas. Faz ninho em árvores ocas, troncos de
palmeiras, ninhos de pica-pau, em mourões, dentro do penacho de coqueiros e nas
densas copas dos pinheiros, utilizando também ninhos abandonados de
joão-de-barro. Ocupa buracos também em barrancos e cupinzeiros terrestres. Às
vezes faz um ninho aberto, situado em uma forquilha de um galho distante do
tronco, em uma árvore densa e alta. Conhecido também como pássaro-preto, chupão
(Mato Grosso), arranca-milho, chopim e graúna (derivado do tupi
"guira-una" = ave preta).
Trinca Ferro
Comprimento:
20 cm. Presente do Mato Grosso, Goiás e Bahia em direção sul até o Rio Grande
do Sul, incluindo toda a Região Sudeste. Encontrado também na Bolívia,
Paraguai, Uruguai e Argentina. É comum em capoeiras, bordas de florestas
(inclusive de galeria) e clareiras, tanto em regiões de baixadas como em
montanhas. Vive aos pares e canta com freqüência, sendo fácil de observar,
principalmente em árvores frutíferas. Põe ovos lustrosos azul-esverdeados com
uma coroa estreita de rabiscos e pontos pretos. O macho trás comida para a
fêmea no ninho. Conhecido também como esteves (Bahia), tico-tico-guloso,
bico-de-ferro, pixarro e trinca-ferro-de-asa-verde.
João- de- Barro
Comprimento:
18 a 20 cm; peso 49 g. Um dos pássaros mais populares das regiões Sul, Sudeste
e Centro-oeste de nosso País. Está presente em áreas não florestadas, desde o
sul até os estados de Goiás, Piauí e Alagoas. Recentemente tem ampliado seus
limites para regiões onde tem ocorrido o desmatamento de grandes áreas, como o
sudeste do Pará. Encontrado também na Argentina (onde é a ave nacional),
Paraguai, Uruguai e Bolívia. É muito comum em paisagens abertas, como campos,
cerrados, pastagens, ao longo de rodovias e em jardins. Caminha pelo chão em
busca de insetos, freqüentemente pousando em postes, cercas, galhos isolados e
outros pontos que permitam uma boa visão dos arredores. Vive geralmente aos
casais. Canta em dueto (macho e fêmea juntos, cada qual de um modo um pouco
diferente). Juntos, o casal constrói um ninho interessante, em formato de forno
de barro, o qual pode ser facilmente identificado no alto de árvores e postes
em regiões campestres. No interior do ninho há uma parede que separa a entrada
e a câmara incubadora, construída para diminuir as correntes de ar e o acesso
de possíveis predadores. Utiliza como matéria-prima o barro úmido, esterco e
palha, cujas proporções dependem do tipo de solo (se arenoso, a quantidade de
esterco chega a ser maior do que a de terra). A construção do ninho demora
entre 18 dias e 1 mês, dependendo da existência de chuvas e, portanto, de barro
em abundância. O ninho pesa em torno de 4 kg e às vezes ocorre a construção de
vários deles, sobrepostos (até 11), em anos consecutivos. Põe de 3 a 4 ovos, a
partir de setembro. Uma vez abandonados, os ninhos são reutilizados por outras
espécies de aves e até por abelhas. Conhecido também como barreiro (Rio Grande
do Sul) e forneiro.
Curió
Comprimento:
13 cm. Presente em todo o Brasil. Encontrado também do México ao Panamá e em
quase todos os países da América do Sul, com exceção do Chile e Uruguai. É
comum em capoeiras arbustivas, clareiras com gramíneas, arbustos nas bordas de
florestas altas e pântanos, penetrando também nas florestas. É o pássaro canoro
mais apreciado do Brasil devido ao seu canto melodioso e agradável, sendo comum
encontrá-lo em cativeiro, prática ilegal quando o pássaro é capturado
diretamente na natureza. Vive solitário ou aos pares, normalmente separado de
outras espécies de pássaros, embora às vezes possa misturar-se a bandos de
Sporophila e tizius. Alimenta-se de sementes, subindo nos pendões de capim ou
catando-as no chão. Faz um ninho de paredes finas, em formato de xícara. Põe 2
ovos branco-esverdeados com muitas manchas marrons. O macho é preto-brilhante
com o peito e barriga castanho-escuros; a fêmea é marrom nas partes superiores
e marrom-canela nas inferiores. Conhecido também como avinhado, bicudo e peito-roxo
(Pará).
Sabiá-
Una
Comprimento:
20,5 cm; peso: macho 64 g; fêmea 72 g. Presente em Roraima e da Paraíba ao Rio
Grande do Sul. Encontrado também na Colômbia, Venezuela, Guiana, Paraguai e
Argentina. É comum na copa e nas bordas de florestas, capoeiras, clareiras
adjacentes e em plantações de café. Em regiões montanhosas da costa brasileira
é geralmente a espécie de sabiá mais comum. Vive solitário ou aos pares. É
difícil de observar, a não ser quando está se alimentando em árvores
frutíferas. Canta normalmente do alto das árvores. Além do próprio canto, imita
uma série de outras aves, porém, às vezes, de forma tão grosseira que é difícil
distinguir qual pássaro está imitando. Migra durante o inverno, deixando as
regiões serranas em busca de lugares mais quentes. Faz um ninho raso em formato
de xícara. Põe 2 ovos azulados ou esverdeados com marcas marrom-avermelhadas. O
macho é preto com as costas e barriga de coloração cinza; a fêmea é
marrom-oliváceo nas partes superiores e marrom-amarelado nas partes inferiores,
com a garganta estriada de marrom-escuro. Conhecido também como sabiá-da-mata.
Sabiá- Laranjeira
Comprimento:
25 cm; peso: macho 68 g; fêmea: 78 g. Presente do Maranhão ao Rio Grande do
Sul, é o sabiá mais conhecido do Sudeste, sendo menos numeroso no Nordeste.
Encontrado também na Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. É comum em bordas
de florestas, parques, quintais e áreas urbanas arborizadas. Vive solitário ou
aos pares, pulando no chão. Em regiões mais secas é, de certa forma, restrito a
áreas próximas à água. Come coquinhos de várias espécies de palmeiras e de
espécies introduzidas, como o dendê. Cospe os caroços após cerca de 1 hora,
contribuindo assim para a dispersão dessas palmeiras, comportamento apresentado
também por outros sabiás. Alimenta-se ainda de laranjas e mamões maduros, bem
como de insetos e aranhas. A construção de ninhos pode se tornar confusa em
certas ocasiões: quando o local escolhido é formado por vãos entre numerosos
suportes iguais de um telhado, o sabiá-laranjeira pode construir vários ninhos
ao mesmo tempo, por confundir os vãos. Põe ovos verde-azulados com pintas
roxas. Conhecido também como sabiá-de-barriga-vermelha e sabiá-coca (Bahia).
Sabiá- do- Campo
Comprimento:
26 cm; peso: 73 g. Presente nas regiões campestres do baixo Rio Amazonas e do
Estado do Amapá, e do Maranhão através das regiões Centro-oeste, Nordeste,
Sudeste e Sul até o Rio Grande do Sul. Encontrado também no Suriname, Bolívia,
Paraguai, Uruguai e Argentina. É comum em qualquer paisagem aberta e
semi-aberta com árvores ou arbustos, fazendas, ao redor de habitações,
caatingas, montanhas do Sudeste (Serras do Mar e da Mantiqueira), buritizais
(Mato Grosso e Goiás). Alcança localmente o litoral, por exemplo na Bahia.
Alimenta-se principalmente de insetos e frutos, mas também de aranhas e mais
raramente de minhocas, néctar e flores. As sementes ingeridas são eliminadas
intactas através das fezes ou por regurgitação, o que o torna um agente
dispersor das mesmas. Ocasionalmente alimenta-se também de ovos de outros
pássaros, atacando os ninhos. Vive em pequenos grupos, pousado em locais baixos
ou no chão. Faz ninho na forma de uma tigela rasa e grosseira, localizada na
copa das árvores. Gosta de construir sobre um ninho velho, inclusive de outra
ave. Põe ovos esverdeados com manchas cor-de-ferrugem. É migratório em algumas
regiões, como no Rio de Janeiro. Conhecido também como arrebita-rabo,
galo-do-campo, sabiá-cara-de-gato, sabiá-do-sertão, tejo (Paraná), calandra
(Rio Grande do Sul) e tejo-do-campo.
Sabiá- da- mata
Comprimento:
24 cm. Presente na Amazônia brasileira a leste do Rio Negro e do Rio Madeira,
em direção sul até Mato Grosso e Goiás, e na costa, do Pernambuco ao Rio de
Janeiro. Encontrado também na Colômbia, Venezuela e Guianas. Varia de incomum a
localmente comum no interior e nas bordas de florestas, especialmente em áreas
pantanosas e várzeas, à altura dos estratos médio e inferior. Também encontrado
em plantações de cacau e clareiras adjacentes. É uma espécie raramente
observada, sendo mais detectada pelo seu canto. Vive aos pares, pulando no chão
ou em suas proximidades. Sua alimentação é semelhante à do sabiá-laranjeira.
Faz ninho na ramagem, em galhos grossos, tocos ou troncos oblíquos cobertos de
epífitas, entre gravatás e às vezes sobre barrancos. Conhecido também como Carachué-da-capoeira
(Amazônia), sabiá-verdadeiro, chapéu-de-couro, padrão (São Paulo, cativeiro) e
sabiá-vermelho.
Que riqueza de pássaros! Como disse Aluízio de Azevedo, "A república das asas" delfinense é deslumbrante! Mais um item a ser descoberto e valorizado por nós e por nossos alunos.
ResponderExcluirOs pássaros vivem na alma dos poetas!! Por aqui tem também uma variedade imensa!! Vamos preservá-los!!
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