segunda-feira, 15 de julho de 2013

Brincadeiras de outrora

Brincadeiras de outrora

  Padre Ervane Benedito de Souza é delfinense do Bairro Mogiano, atualmente reside no Mato Grosso do Sul e escreveu o livro “Anedina do Mogiano” para homenagear sua avó DªAnedina,  quando esta completou 90 anos de idade. E numa das partes do livro, Pe. Ervane enumerou 135 brincadeiras de uma época em que as crianças tinham tempo para brincar e das quais se recorda, para preencher os corações de todos os delfinenses com lembranças que marcaram a infância de cada um para sempre.


01
Andar a cavalo de cara para trás
02
Animais com pedra do rio
03
Aposta com o joguinho do frango
04
Arquinho( equilibrar um círculo de mangueira)
05
Arrastar mato na estrada para fazer poeira
06
Assoviar com capim- gordura
07
Bafo com figurinhas
08
Balança caixote
09
Balançar no cipó
10
Balanço
11
Balanço
12
Bambolê
13
Bandeirinha ( passar e pegar e bandeirinha)
14
Batata-quente
15
Bate-bete
16
Bete
17
Biluteteia
18
Boca de leão
19
Boizinho com legumes
20
Bola de gude
21
Bola de meia
22
Boliche
23
Boneca de sabugo
24
Briga de boi com cabeça e ombro
25
Briga de galo
26
Brilhar com joá( espinho selvagem)
27
Buguia com pedrinha
28
Cabana de cobertor
29
Cabo de guerra
30
Caça ao tesouro
31
Caçar lebre no mato
32
Caçar rato no paiol
33
Carrinho de cabo de vassoura- onde tinha calçada punha-se sabão
34
Carrinho de mão – segurando as pernas
35
Carrinho de rolimã
36
Castanhola
37
Cata-vento
38
Cavalinho de ferradura ( com lata de sardinha, massa ou óleo)
39
Cavalinho de pau
40
Chicote queimado
41
Ciranda-cirandinha
42
Cobra-cega
43
Colocar carrapicho no cabelo
44
Corrida
45
Corrida com o ovo na colher
46
Corrida no brejo ( passar correndo e afundar)
47
Corrida no saco
48
Cozinhar na latinha de cera
49
Cunhé-cunhé- pinicar a mão
50
Dança da cadeira
51
Dançar quadrilha
52
Descobrir em qual mão está o palito
53
Disputa de enfiar a cabeça na água
54
Dobradura de papel
55
Dominó
56
Dona Chicacá
57
Duro-mole
58
Equilibrar vassoura na mão
59
Escalar barranco
60
Escolinha
61
Esconde-esconde
62
Escorregar de canoa na ladeira
63
Escrever com carvão
64
Espiral ( fincar um bambu e amarrar bola)
65
Estilingue
66
Estourar bexiga
67
Estourar copo-de-leite
68
Fazer arapuca para prender passarinho
69
Fazer barragem para nadar
70
Fazer bicho de barro
71
Fazer cadeirinha de jumbo ( mato do brejo)
72
Fazer casa de pita
73
Fazer casinhas de taquara
74
Fazer móveis com caixa de fósforos
75
Fazer piquenique com frutas da época
76
Flecha de bambu
77
Forquinha
78
Futebol
79
Galinha choca
80
Gangorra
81
Ginástica olímpica
82
Girar p/ ficar tonto
83
Gritar na floresta para dar eco
84
Guerra com mamona
85
Guerra de travesseiro
86
Imitações
87
Jangada de bananeira
88
Jogar adedonha
89
Jogar mato para estalar no fogo
90
Jogar pedra na água para fazer patinho
91
Jogo da velha
92
Jogo de palito(tirá-lo sem mexer)
93
Jogo do stop
94
Latinha de massa de tomate ( amarrar latinha e jogar na ponta de um pau -  tipo bilboquê )
95
Loita( luta - disputa para prender o adversário no chão)
96
Maia
97
Mamãe mandou escolher essa daqui
98
Manda-lata
99
Marcha soldado cabeça de papel
100
Maré
101
Mola -maluca
102
Morto-vivo
103
Óculos com casca de laranja
104
Passa-anel
105
Passar sal no sapo e jogar brasa para ele comer
106
Pega-pega
107
“Peidar” com a mão debaixo do braço
108
Perna de pau
109
Pescaria
110
Peteca
111
Pipa
112
Pixorra – estourar bola ou moringa
113
Plantar bananeira ( pernas para cima)
114
Ponte de taquara
115
Pular carniça
116
Pular corda
117
Pular e escorregar no barranco
118
Queda de braço
119
Queda de mão
120
Queimada
121
Revólver de bambu
122
Rodear a galinha e soltar para ela “cagá”
123
Salto- altura
124
Salto distância
125
São Longuinho – três pulinhos
126
Soltar Pião
127
Tacar ovo choco na pedra
128
Tacar pedra no marimbondo e nas casas
129
Teatro
130
Telefone de latinha
131
Tourada
132
Trocar canto
133
Vaivém
134
Vaca amarela
135
Ver desenhos nas nuvens e parede

Regra de jogar pião na roda:
Ferrão fora, tudo fora!

Jogar pião na roda era uma brincadeira diária dos meninos, depois da escola.
Atividade competitiva e sadia da meninada. Nessa hora todos sabiam que havia regras, que havia limites e que tinham de ser preparados.
Era hora de adrenalina, rapidez, pontaria, que moldava o caráter dos garotos que, céleres, enrolavam a fieira no pião, levavam, isto é, levantavam o pião até as costas num gesto de algoz, e o jogavam com a força que tinham para acertar nos piões caídos na roda. É um jogo que hoje quase não se vê e está desaparecendo.
Acho que é preciso esclarecer para os muitos que não sabem.

PIÕES E FIEIRA 

O pião é um brinquedo que cabe na mão e é feito de madeira, arredondado, com a parte de baixo afunilada, meio abaulada e termina no “ferrão” que é a ponta de aço, geralmente feito de material para pregos, que é cravado na ponta do pião. O pião tem uma saliência na parte de cima, chamada de “carapeta”. O dicionário não tem mais essa palavra. Serve para ajudar a passar a fieira.

PIÃO COM FIEIRA ENROLADA 

A fieira é um barbante, um fio um pouco grosso, macio, resistente, de um a dois metros. O pião roda quando ele é enrolado pela fieira e atirado. A fieira desenrola e pião começa a girar.

PIÃO RODANDO NA MÃO 

Os garotos que brincam de pião sabem fazer o pião girar no ar e cair na palma da mão para mostrar a todos a façanha. Geralmente se joga o pião no chão.

RODA PARA JOGAR PIÃO 

Jogar pião na roda era coisa de profissional. No chão batido, para começar era preciso fazer a roda na terra. Fincava-se o ferrão de um pião no chão, e no ferrão dele ficava a ponta de uma fieira amarrada, e, na outra ponta da fieira tinha outro pião amarrado e um menino a segurá-lo ea dar a volta ao redor do pião fincado, e a riscar o chão. Estava riscada a roda.
As rodas geralmente tinham em torno de um metro e meio a dois metros de diâmetro, um pouco menos, para os menores com piões pequenos.
Feita a roda, juntava-se a meninada, com os piões para jogar. Cada qual trazia seus melhores piões, feitos de nó de nogueira, que não havia quem os rachasse, grandes para terem “peso” para serem jogados com muito estrago. Todos os meninos tinham vários piões e chegavam com os bolsos cheios e mais dois ou três nas mãos. Precisava. Porque durante o jogo às vezes, podiam ficar sem pião para jogar se todos os piões estivessem presos na roda, ou perdidos para os outros jogadores.
O jogo tinha regras, sagradas.

O MONTE DE PIÕES 

Feita a roda, cada um dos que queriam jogar punha um pião no meio da roda, para fazer o monte. Era o preço para entrar no jogo. Todos se espalhavam em volta da roda, geralmente cinco a sete. Já ficava “à cunha” quer dizer cheio, não cabe mais ninguém. Mais que sete já se fazia outra roda.

A HORA DE JOGAR 

Aí havia o grito de “já”. Monossílabo forte, e todos começavam a enrolar o seu pião, e a jogar na roda. O objetivo era acertar os piões da roda e tirá-los para fora. Quem tirasse um pião passava a ser o dono desse pião. Não valia colocar pião “chocho” no meio da roda. Pião “chocho” era o que tinha o ferrão “bambo”, a balançar, quase a cair, ou o que já tinha sido rachado ao meio e sido colado depois.
O pião quando cai no chão da roda, ele gira em cima do ferrão por alguns minutos. Para isso o ferrão ter de estar alinhado. O pião roda sutil. Primeiro “de pé”. Depois o pião começa a pender e gira pendido à volta do ferrão. “Fica dormindo”.  E vai a pender, à medida que perde a força até o ponto em que toca o chão. Dá a “cabeçada”. A cabeçada é momento crítico. Ficava-se a esperar para que lado ia o pião, olhando com os dentes apertados e olhos fixos. É um dos riscos do jogo. O pião “pega” no chão e sai rolando com velocidade para o lado em que está. Pode sair da roda. Pião que sai da roda  “sozinho” volta para o dono. Está salvo. Pião que não sai da roda vai par o monte.

OS PIÕES NA RODA 

Não podia entortar o ferrão. Porque quando se joga o pião com o ferrão entortado ele fica “corriqueiro”, que quer dizer, fica saltitando e rapidinho ele sai da roda. Era roubar no jogo. Era o pião do “padre”.
O que valia era a pontaria e acertar um pião dentro da roda, no monte ou rodando, e ‘tirá-lo” para fora da roda. O pião “tirado” era pião de quem o tirasse. Podia “tirar” pião da roda, dos que todos colocavam no começo do jogo, dos que tinham caído dentro e também podia tirar o pião ainda rodando que o outro menino tivesse acabado de jogar na roda. Caiu na roda estava à mercê de todos, seja os do monte, seja os que estão rodando.


ACERTOU!!! 

Às vezes o pião só dava uma “castanha”, quer dizer, caía do lado e batia de lado no pião que lá estivesse. Se a “castanha” fosse forte podia tira o pião da roda para fora. O pião que saia mudava de dono na hora. Ia para o menino que deu a castanha. Importante: castanha de pião corriqueiro não vale.
Às vezes o pião tirava uma lasca, que dizer quando caía em cima de outro pião, pegava do lado e arrancava um pedaço de madeira que saltava e arrancava espanto de todos. Muita risada pala façanha.
A glória era rachar um pião. Poucos conseguiam e, quando se conseguia, era história para contar por muitas semanas.
Quase sempre o pião jogado saía da roda.  Mas às vezes ficava em cima da linha da roda, metade fora, metade dentro. Aí todos os meninos que estavam no jogo, aproximavam-se da linha da roda com a função de juiz, e gritavam em coro dos doze anos: “Ferrão fora, tudo fora! Ferrão dentro, tudo dentro!”. Aí cada um votava. E a ponta do ferrão decidia a posse do pião. Era a regra:

FERRÃO FORA, TUDO FORA!
 FERRÃO DENTRO, TUDO DENTRO! 



Eduardo D Soares

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