Eu e a maria-fumaça
Vou tentar lembrar, mas já passou um tempão, né? Não sei se vou me lembrar de tudo...
O que você quer saber primeiro? Ah já sei, você que é adolescente deve querer saber como a gente namorava, né? Tá bom... Era assim: os meninos tinham que pedir a mão da menina em namoro ou em casamento, antes de começar a namorar... Isso mesmo, pedir a mão da menina em casamento antes de começar a namorar, você deve estar achando isso um absurdo, mas era assim...
Para ir à escola,a gente ia a cavalo ou a pé, aliás, íamos pra todo lado desse jeito. Voltando pra escola, que mais eu posso falar sobre ela...Ah... Talvez você ache estranho, mas antigamente nosso material não era levado em mochilinhas bonitas e sim em sacos de arroz. Você talvez ache horrível ir pra escola com o seu material dentro de saquinho de arroz, mas naquela época era normal.
As brincadeiras... Ah as brincadeiras... eu adorava pular corda. Também tínhamos uma imaginação, até inventávamos algumas delas. E que legais que eram... E quando nós voltávamos da rua, minha mãe sempre estava nos esperando com uma sopade legumes deliciosa feita em um enorme caldeirão de ferro. Quando era menino não sabia o valor que isso tinha...
Bem... O modo de se vestir era simples, os meninos com suas calças e camisas, às vezes, remendadas, e as meninas usavam vestidos bem longos coloridos, e agora você vai se assustar mesmo, todo mundo andava descalço, até para ir à roça, capinar e roçar era descalço. Não tinha nem chinelo naquela época.
Agora falando de roçar e tal, eu me lembrei
que a terra era ótima para o cultivo, as sementes eram boas. Tanto eram
boas que até sobrava, e aí o que sobrava nós vendíamos em Delfim, e comprávamos
coisas muito gostosas e saborosas. Ah, como era bom o comércio antigamente...
Lembro-me bem que, para compras íamos com carrinhos um pouco improvisados, amarrados com cordas, linhas e barbantes, ou até cipó ,mas era isso que os deixava tão especiais .
A cidade cresceu muito ... Apareceram novos comércios que antes não existiam, mas em compensação anteshavia as fábricas, inclusive fábricas de doce, pois era uma fartura de frutas, que só vendo . Na safra do marmelo, eu gostava muito de sopa com queijo; era deliciosa e rica em vitaminas, assim minha mãe dizia.
Ah e não posso me esquecer da "Maria -fumaça”, que quando acendia o fogo para sair eu ia lá esquentar minhas mãos! Hoje vejo o tempo como uma "Maria- fumaça”, ésempre o mesmo, ele vai e volta , é como um ciclo... Mas,às vezes, quando ele volta você já não é mais o mesmo que um dia ficou feliz pelo simples fato de suas mãos estarem quentinhas...
Entrevistado: Antonio Sebastião de Sousa, 65 anos
Autoras: Izabel Nigro Bernardes
Daiane Cristina Gonçalves
Autoras: Izabel Nigro Bernardes
Daiane Cristina Gonçalves
A
corrida do tempo
Que saudade dos meus tempos de
infância... tanta pureza... tantos sonhos...um tempo que marcou minha vida .
Lembro-me quando ainda era tão pequena e
gostava de ajudar minha mãe. Ela que era tão meiga de pele e olhos claros. Como
era bom!
Adorava viver
na roça, com minha mãe e meus seis irmãos;meu pai havia morrido quando eu
completei 10 anos. Olha que a vida corre, hoje só me restaram dois irmãos, e
que falta os outros me fazem... Sinto muita saudade.
Lembro-me de quando acordava cedo com
o galo cantando, o bom cheiro do café e rosca feitos em casa. Quando saía pra
aula, o ar frio tocava meu rosto, o sol surgindo... Tudo branco por causa da
geada, era até bonito de se ver!!!
Na escola, o tempo passava rápido e,
logo, acabava a aula... O sinal tocava e nós, como pássaros esperando a
liberdade dentro de uma gaiola, saíamos correndo para festejar!
Então, íamos pra cachoeira nadar, como
era gostoso tomar banho de cachoeira, sentir a água fria beijar minha pele,
estremecer de alegria e gritar saudando a liberdade e a natureza que, em festa,
exibia montes de espuma... minha infância foi ótima, nunca me esquecerei... e
que lembranças maravilhosas!
Minha escola, ahh...minha escola era
ampla e bonita, parecia um grande salão, localizava-se onde hoje é o hotel São João. Eu adorava
estudar junto com minha irmã Belmira e nossas professoras Santinha, Geralda,
Filomena, Colária e a mais brava, a Dona Bezinha, que até nos deixava de
castigo no grão de milho. Minha neta, não pense que é mentira não, na minha
época havia o castigo mesmo!!! Ahhh... Mesmo assim, sinto saudades da escola e
dos meus amigos.
Terminada a aula, vinha pra casa e
tomava café com farinha, que delícia que era!!! Depois, eu saía pra rua a
brincar. Era tão bom... me jogava na grama, olhava pro céu, contava as estrelas
e, então, via que já estava noite e entrava em casa; rezávamos e íamos jantar
todos juntos. Mais tarde, contávamos histórias.
Não posso deixar de
lembrar da “Maria-fumaça” que partiu faz 55 anos... deixando muita saudade! Foi
sem se despedir...
Lembro-me das
fábricas CICA, COLOMBO, MANTIQUEIRA, PEIXE e FRUTICULTORES, todas faziam doce,
principalmente o de marmelo. Era lindo de se ver, era uma fartura... um cheiro
que nos perseguia de longe. E o amarelo predominava na paisagem... tanta beleza
que encantava os olhos.
Eu...eu desfrutava
disso tudo. Fazia questão de ajudar colher; até cheguei a trabalhar na Colombo.
Era bom demais... eu adorava banhar os marmelos, aquela água gelada que batia e
voltava com seu frescor!!!
Preparávamos as
embalagens bem coloridas e diversificadas, eram lindas! Então, colocávamos os
doces e levávamos para as vitrines que brilhavam, era uma fábrica arrumada,
cheirosa; dava gosto de trabalhar lá!!! Como esse tempo corre, hein!?
As festas? As festas de Delfim eram ótimas, não são como
as de hoje... Antes havia vários bailes com sanfoneiros e violeiros. Hoje, há
poucas festas e não são tão animadas. Em meu tempo, era o padre Martinho, um
padre muito animado, que dava apoio à comunidade, ele recebia todos de braços
abertos. Ah, uma curiosidade, as festas natalinas eram comemoradas em novembro.
Eu nunca me
esquecerei do circo “POKAROUPA”, o melhor circo que já veio aqui em Delfim
Moreira...Eu tinha apenas 17 anos...Era o ano de 1951...
Nossa, como o tempo
passa rápido! E eu já estou atrasada, tenho que ir minha neta. Depois lhe
contarei das nossas brincadeiras, uma delas era pular barrancos, você vai rir
muito! Mas agora seu avô está me esperando. Precisa que eu assine a entrevista?
De qualquer forma é melhor assinar
Francisca Siqueira de Castro -1934
Vou indo porque o tempo não espera.
Entrevistada
: Francisca Siqueira de Castro – 78 anos
Autora:
Mariana Santos Siqueira
Entre
amigas
- Bom dia,Carmem, quanto tempo. Que bom que você
veio para conversarmos com nossas netas!
- Bom dia, Nelsa. Então, as
meninas querem saber dos nossos tempos de outrora. E nesses dias, estava me
lembrando daquele nosso tempo de menina
... Lembra que não podíamos namorar como agora ? Não podíamos nem pegar
na mão... tínhamos que namorar pelo “buraquinho” da porta, hahaha...
- É, me lembro sim, haha... Os
pais só nos davam "liberdade" para namorar depois dos 16 anos e, logo
apósalguns meses, já nos casávamos. Nossa, também me lembro que para ir a
escola tínhamos que andar no mínimo uns 40 minutos, pois não havia ônibus. Que
preguiça que nos dava, né ?!
-É Nelsa, tinha dia que nem me dava vontade de
ir à escola; ia porque a escola era boa, e adorávamos jogar bola, brincar de
pique, cobra-cega e pular carniça na hora do recreio! Ahh... a vida era muito
difícil ... As mães eram muito exigentes, tínhamos que ajudar na roça todos os
dias. E comprávamos tudo do mais barato,só o necessário.
- Ah, Carmem, é verdade. Nós nem
tínhamos essa variedade de caneta como agora, muito menos computador. Lembro-me
que antes escrevíamos com pena e tinteiro. Ah, como eu gostava...
- Então né... Os tempos mudaram e
a nossa cidade cresceu muito. Havia muitas fábricasde polpa de marmelo, alguns
laticínios... ! Eu me lembro dos apitos das fábricas, da movimentação dos
operários... Ah, era tudo muito bom !
- Bom, minhas netas , acho que já
falamos muito, né ? Se pudéssemos, ficaríamos aqui o dia inteiro relembrando os
velhos tempos, que foram e não voltam mais. Mas o tempo passa, e apesar de ter
sido muito difícil, fomos e somos muito felizes !Hummmm ... E que tal irmos
agora fazer um bolão de fubá ?
Entrevistadas :
Maria do Carmo Rodrigues da Silva, 70 anos
Nelsa Aparecida Nunes Ribeiro, 74
anos
Autoras: Alana Carolina Coura
RhayaneThamires Andrade
Viagem ao passado
Nasci em
Piquete –SP , mas desde muito pequeno
vivo aqui em Delfim Moreira , uma bela cidade, pequena no tamanho, mas
ampla o suficiente para guardar muitas recordações, ahhh… e que recordações
! Tão boas que decidi compartilhá-las
com vocês . Vamos embarcar neste vagão ?
Bem … lembro-me dos marmeleiros carregados, que perfume....
que frutos deliciosos... deixavam a gente
com água na boca . Quanta fartura! Hum…
Tambémtenho muitas lembranças da
escola … era muito diferente das escolas de hoje e muito , muito mais difícil ,
pois os castigos eram bem mais rigorosos : os alunos tinham que ficar
ajoelhados nos grãos de milho , enquanto os educadores soltavam bombinhas em
volta . Mas, mesmo assim, eu gostava , era muito bom ! Infelizmente
todoesse gosto durou pouco ... estudei
apenas até o 2º ano . Minha vontade era seguirem frente nos estudos, junto com
meus companheiros , mas tive que
aprender com a vida … Não pude frequentar por mais tempo a escola , porque minha mãe trabalhava na colheita de
marmelo , já meu pai era peão e amansava burros , cavalos e bois , foi aí que surgiu meu apelido “João
Peão” . Tinha 11 irmãos e, como era o mais velho, ficava encarregado de
educá–los, era praticamente o pai deles
… Minha vida nunca foi fácil , mas me
diverti muito no passado !
Ah … Já
estava me esquecendo , não posso deixar de falar da Maria-fumaça que, sem dúvida , trilhou o coração de todo
delfinense e que, infelizmente, um dia foi embora , e nunca mais voltou …
Éééé … eu
disse que minha vida nunca foi fácil , mas pensando bem … difícil é ver tudo
isso se acabando assim… Ainda bem que
as memórias não morrem.
Voltemos à estação , sempre que quiser fazer uma viagem ao passado,me chamem !
Entrevistado : João de Oliveira Santos- 64 anos
Autora : Ana Cecília dos Santos Pinto
Alegria de Viver
Vivi um bom tempo no
Caquende, em uma bela fazenda com muitas árvores cheias de frutas que
perfumavam o ar; as flores alegrando o dia… Morava com meu pai , minha mãe e
meus irmãos , ah tempo bom! Brincava de
pique montanhas afora, e gostava muito de caçar rã. De manhã, ao acordar, adorava ir ver tirar
leite da vaca, aquele leite branquinho, cheio de espuma ,uma delicia ! E minhas
professoras ...Dona Genilda , Dona Marina , Dona Elisa … que saudade! Meus colegas Russo e Carcinha... O sinal tocava
e eu e eles já estávamosbrincando de bolinha de gude , peteca… Às vezes,
brigávamos, mas todos amigos brigam ,
faz parte. Saudades dos meus colegas , das brincadeiras... momentos que ficaram
marcados na minha vida .
Ah, como eu
gostava de ir à Itajubácom meu pai de Maria- fumaça. Quandoela ia chegando,
escutava o barulho e meu coração se enchia de alegria! Depois, na volta, antes
de chegar na estação , eu e meu pai
pulávamos do trem em movimento... Isso para mim era uma farra. Eu não aconselho
ninguém a fazer isso.
E os campeonatos de
futebol, então! Como eu gostava... Joguei desde os meus 10 anos ,e quando fazia
um gol era uma festa! Os jogadores vinhamme abraçar e comemorar . Lembro-me
como se fosse hoje . Bem, o povo delfinense sempre gostou de assistir um jogo
de futebol. Iam de manhã e voltavam só de tardezinha para casa . Nos finais de
campeonato contra cidades da região,todos ficavam apreensivos para saber quem seria o campeão . Nesses dias, os
“picolezeiros” ganhavam muito dinheiro...
E olha que as condições do campo não eram grande coisa, a grama era
seca, não tinha grade para separar os torcedores dos que estavam jogando… mas
no fundo, todo mundo gostava, pois era a única forma de diversão … Ah, saudades desses bons tempos … !
Meu pai , o tio Carmelo , como todos conheceram , foi um
grande incentivador do futebol. Como ele fez história no gramado... e quantos
apelidos ele deixou como herança desses tempos... . Marcou a história da
cidade. Tambémera um homem muito caridoso, muito religioso, participava da
missa todos os domingos . Não me esqueço de quando juntos puxávamos tropas de
batata, um trabalho difícil ; acordávamos cedo , com aquele frio , um vento
forte e gelado, mas eu gostava. Depois,no depósito, trabalhávamos na ensaca.
Ahhh, e a pescaria... lembro-me como se fosse hoje: eu , meu
pai e meus amigos saíamos de madrugada naquele friozinho, mas como valia a pena
! Passávamos o dia todo em Olegário Maciel e, na volta, já era tradição uma
paradinha no meio do caminho para jogar sinuca , e quem ganhava do meu pai ? Ninguém
. Ele sempre foi o campeão e ainda era o maior contador de papo. Quantas
saudades... momentos incríveis e marcantes na minha vida. É, o nosso “tio
Carmelo” se foi, mas ele estará sempre em nossas lembranças e em nossos corações .
Agora tenho que ir, pois a vida é
curta e tenho que aproveitá-la um pouco mais .
Entrevistado:
Nilton Silva 68 anos
Autora : Milena Silva Cunha
Simplesmente vida
No
dia três de agosto, a Dona Ana, avó de uma de nossas colegas, veio nos visitar.
Nós a entrevistamos e ela foi falando mais ou menos assim:
“Me
lembro como se fosse hoje de quando morava em Maria da Fé e adorava brincar com
uma espiga de milho como se ela fosse minha boneca. Pegava um sapinho novinho e
colocava roupinha nele. Quando meu pai achava aquelas ninhadas de ratos, eu
pegava-os e os amarrava com barbante, fazendo daqueles pequenos animais a minha
boiada. Fazia também cavalinhos de chuchu e de batata.
Tive
onze irmãos, mas hoje só restam três. Desde muito pequena trabalhei na roça com
meus pais. Tudo que sei hoje aprendi com eles. A gente se vestia de maneira
muito simples. Nossas roupas eram feitas de saco branco - daqueles que vinham
com açúcar - tingido de várias cores. Calçados não usávamos de maneira nenhuma.
Era ‘pé no chão, pé na geada, pé rachado’. Chegava até a sair sangue.
Minha
casa era coberta de sapé. Chão, parede e fogão eram feitos de barro misturado
com cocô de vaca para ficar mais resistente.
Nossa
diversão era ir à missa aos domingos e voltar direto pra casa. Participávamos
também das festas da Semana Santa e de Fim de Ano. Do carnaval, só ouvíamos falar. Meu pai
proibia a gente até de olhar.
O
meio de transporte mais usado por nós naquela época era a Maria-fumaça. Porém,
viajávamos para Aparecida do Norte, nas romarias, num caminhão coberto com lona
e com tábuas atravessadas na carroceria, que serviam de banco. Levava umas
quatro horas para chegar até lá. Estrada de terra, com muita poeira. Íamos e
voltávamos rezando e cantando. Era só alegria!
Quando
conheci meu marido, estava morando em Guaratinguetá. Ele foi trabalhar com o
meu pai, numa olaria. Já estava de olho em mim há muito tempo. Passava na porta
da minha casa e pedia para o meu pai um copo d’água, um foguinho para acender o
cigarro... até que criou coragem e pediu a minha mão. Meu pai permitiu que
namorássemos, mas só dentro de casa, sob os olhares dele e de minha mãe. Aliás,
não podíamos nem pegar na mão e, beijo... só depois de casados.
Namoramos
durante oito meses e nos casamos só com a roupa do corpo. Nossa cama era feita
com quatro estacas fincadas no chão que sustentavam um jirau e um colchão de
pano cheio de palha seca, feito por mim mesma. As panelas eram latas de óleo
vazias cuja tinta era removida depois de as deixarmos de molho em água com
cinza. Ficavam brilhando que era uma beleza! Apesar da nossa pobreza, éramos
muito felizes porque já nos amávamos tanto quanto agora e olha que estamos
casados há 53 anos!
Atualmente,
o que me faz muito feliz é quando meus filhos, netos e bisnetos vêm para minha
casa. Isso sim é muito importante para mim: ter a família reunida.”
Dona
Ana despediu-se de nós com um sorriso alegre e confiante, ciente de ter passado
para mim e para meus colegas um pouco da felicidade que traz consigo.
Ana Paula Ribeiro
O
tempo que não volta
- Vó, você poderia me contar um conto
de fadas?
- Mas, minha neta, você se esqueceu que eu
não sei ler? E depois,já se passaram tantos anos...Você já deve ter esquecido
que eu estudei só até a 4ª série... Mas na mente sempre ficam algumas
lembranças, e tenho uma que você vai amar !
“Oh, tempinho bom aquele que eu brincava de
boneca com minha irmã! Bem, você vai rir, mas não era exatamente uma boneca,
nós pegávamos os gatos e fazíamos roupas pra eles .E além disso, fazíamos
bonecos de verduras!
Saudade? Saudade tenho é da escola... quando
chovia fazia aquele barro que você nem imagina; e o pior é que todos chegavam
sujos na sala de aula! Naquele tempo, não tinha ônibus não , e a estrada
era de barro vermelho! Lembro-me como se fosse hoje quando arrumei um namorado:
era eu e ele de um lado e papai do outro , imagina que cena
engraçada !
Eu e papai vivíamos brigando, mas ele era um
pai bom que vivia nos aconselhando. Às vezes, passávamos madrugadas a
conversar.
O porquê da saia abaixo do joelho? Nem sei
direito... Lembro-me que um dia, há muito tempo, ganhei uma saia curta acima do
joelho e meu pai a rasgou em meu corpo e disse que eu só poderia usar saias
abaixo do joelho; e nossos sapatos eram de couro, que papai mesmo fazia, e que
eram também usados para nos bater.
Viajar? Ahn... eu nunca viajei porque sem
dinheiro ninguém viajava. É, a vida naquele tempo não era nada fácil. Nós,
mulheres, trabalhávamos igual aos homens na roça; eu carpia, plantava e colhia
todos osdias. E, graças a Deus, nunca passamos fome.
Agora a saudade me bate, e a única coisa que
me resta são as lembranças...ahh, e que saudade das festas! Aconteciam de mês
em mês na igreja.... Parando pra pensar, hoje em dia não há mais festas na
igreja, mas deixe-me continuar! Natal, Festa Junina, Carnaval eExposições nosso
pai não deixava ir de jeito nenhum. Em celebrações religiosas íamos com nossos
pais e, após a missa, tinha comida e bebida de graça, além de uma banda que
tocava músicas antigas e bonitas!
Oh tempinho bom, que não tem mais volta...
Lembro-me muito bem, quando apanhei porque fui no carnaval escondida, mas
apesar das chicotadas foi muito bom, porque me diverti à beça. Comi balas
até... Naquele tempo era uma por dia para cada irmão, imagine só! Mamãe não
deixava a gente chupar muitas balas , porque dentista ‘grátis’ naquele tempo
não tinha.
Hoje em dia, acho tão estranho eu ganhar
presentes em meu aniversário, porque antes até um simples parabéns era difícil
receber . Viu só minha netinha ? Vocêainda reclama por ganhar poucos
presentes...
Às vezes, paro a pensar por que será que as casas
são tão chiques, hoje ? Antes as casas eram de pau a pique, o chão de barro;
jáa dos mais ricos tinha até assoalho. Essa desigualdade social, cada vez mais,
separa as pessoas...
Ah, era tão bom quando meu irmão ia bem cedinho
pegar o leite na porteira que o próprio leiteiro deixava; comíamos bolo
de fubá com um copo de café com leite bem quentinho.
E as costureiras daqueles tempos iam apenas nas
casas de gente mais abastada, e se nós quiséssemos encomendar roupas, tínhamos
que correr atrás delas...
Mas a melhorparte disso tudo eram as fábricas.
Minha mãetrabalhou numa delas, pena que nós não recordamos muito bem, mas com
razão, já se passaram tantos anos! Até parece, que foi num piscar de olhos.
Bom minha querida netinha, vou ficando por aqui.
Tenho que ir dormir, já é muito tarde. Que pena que você dormiu! Foi tão bom
recordar o passado e espero que você possa viver muitas aventuras para contar a
seus netos algum dia!”
Entrevistada : Leonor Francisca Nunes Silva- 60 anos
Autora :Janaina Nayara Moraes
No último vagão
“Nasci em Itajubá e nossa família
mudou-se para Delfim Moreira quando eu tinha doze anos. Na minha infância,
gostava de brincar de maré, de casinha, de fazer comidinha, de roda e de
bicicleta. Éramos dez irmãos, mas dois deles morreram ainda novinhos. Tomávamos
banho de bacia porque naquele tempo não havia chuveiro em nossa casa. Primeiro
lavávamos os cabelos e depois o resto do corpo.
Andei muito de Maria-fumaça. Gostava
de ficar no último vagão para acenar para as pessoas que passavam na rua.
Também andei de charrete e de carro de boi.
Na quarta série primária, fiz de tudo
para levar bomba e poder estudar na escola nova que seria inaugurada no ano
seguinte: o Grupo Escolar Marquês de Sapucaí. Para grande surpresa da
professora, consegui o que queria.
Meu pai era dentista e minha mãe
doméstica. Meu único emprego foi na fábrica de marmelo. Que saudades eu sinto
do cheirinho delicioso dessa fruta que era tão comum naquele tempo e, hoje,
quase não se vê mais por aqui.
Eu gostava de participar da missa com
as Filhas de Maria – espécie de congregação da igreja católica. Depois da
missa, meu pai permitia que eu ficasse passeando na praça até às 21h. Se
chegasse cinco minutos atrasada, ele estaria me esperando atrás da porta... e
eu ficava uma semana de castigo, sem
sair nem na janela!
Ah, quanto ao namoro, conheci meu
marido numa brincadeira de baralho, na casa de dona Juquita, nossa vizinha,
minha futura sogra. Eu e minha irmã mais nova,Isaura, que tinha apenas seis
anos, íamos para lá e o Tião, filho da
Dona Juquita, dizia que era namorado da Isaura. E assim foi por algum tempo até
que chegou um primo do Tião e disse que ele é que era o namorado da minha irmã.
O Tião disse que ia ficar sozinho e eu falei que ele só ficaria sozinho se
quisesse, porque eu estava ali... Desse dia em diante, começamos a namorar.
Namoramos por um ano e depois marcamos o casamento. Apesar de ele estar
desempregado, nos casamosporque o meu pai disse que não admitia enrolação.
Casamos com a cara e a coragem, durante uma das missas das Filhas de Maria,
como era costume naquela época. E não era que nem hoje, que os noivos fazem
listas de presentes. Eu e o Tião ganhamos meia dúzia de xícaras de café de um
dos padrinhos e outras coisinhas simples.
Nesses anos todos, muitas coisas
aconteceram, alegres e tristes. Hoje sou feliz com meus filhos, netos e
bisnetos e mais feliz ainda porque estou casada há mais de cinquenta anos com a
pessoa mais maravilhosa que já conheci...”
Então, é essa a história que Dona
Nely nos contou com muita alegria, na ocasião emque nos visitou em sala de
aula.
Wiebke Cipas Perhs
Pedaços de
história
Eu nasci no bairro Caquende, como
lá era gostoso... Só de pensar, sinto o vento trazendo o aroma das deliciosas
frutas... Naquele pedaço de chão,fui criada com meus oito irmãos: Adilson,
Nilton, Carmelo, João Batista, Vera, Tereza, Rosa e Paulo Renato, todos muito
queridos. Meu pai era Carmelo Conti, o Tio Carmelo; difícil quem não o
conheceu,famoso por suas histórias e os inesquecíveis apelidos; ele sempre
participou do futebol delfinense. Jáminha mãe, Aurora Duarte, era querida e
conhecida por sua bondade e infinita vontade de ajudar os outros. Também
moravam conosco meus avós, Vó Branquinha e Vô Zeca , que saudade!
Recordo-me daqueles bons tempos:
Papai pedia todas as noites para pentearmos seus cabelos...
Sempre que podíamos eu e meu
irmão Melo íamos pescar na Água Limpa. Naquela época, a água ainda era limpa e
cristalina da qualtirávamos os pequenos peixes com apenas uma peneira. A imagem
das brincadeiras e artes que eu aprontava com meus irmãos nunca saiu da minha
memória - todos brincavam de pular-corda, pique, peteca... e a gente adorava
andar a cavalo. E os piqueniques então, eram deliciosos... bolachas, doces,
balas e refrigerantes de diversos sabores, uma fartura!
Já em outra parte da minha
história,também muito animada e divertida, aconteciam os bailes que eram muito
animados nos quais tocavam tango, valsa e o famoso baião. Ali dançávamos e
passávamos bons momentos...
Ah, e o passeio de Maria-fumaça,
que embalava nossas conversas e nossos sonhos. Lembro- me um dia em que eu e
minhas amigas Cida e Regina íamos para Itajubá e o trem tombou. Foi um grande
desespero... Felizmente, que todos nós conseguimos sair do vagão e tudo ficou
bem.
Aos quatorze anos, fui para
Piquete-SP morar com a minha avó . Lá também era muito bom, mas sempre preferi
minha adorada Delfim Moreira-MG. Voltei , quando o Ginásio se iniciou por
aqui...
E, neste lugar, fiz minha história, tive cinco
filhos Denis, Denize, Deise, Deivid e Daniele, que me deram dez maravilhosos
netos .
Minha família é minha vida, e com
eles sou feliz, graças a Deus.
Autor : João Valadão de Mello
Neto
Alegria de Reviver o
Passado
Ah, que alegria me recordar
dos meus tempos de criança! Eu brincava de pular corda, pique-esconde... eram
tantas as travessuras... Interessante que hoje as crianças não sabem nem
brincar!
E minha escola... Era
tão bonita! Meus amigos... Tão legais. Pena que eu estudei pouco, nem me
recordo até que série, pois tive de sair da escola para ajudar meu pai.
Antigamente, não tinha moleza, não! Tínhamos que trabalhar para garantir o
sustento da família.
Lembro-me e me
emociono de quando ganhei de meu pai meu primeiro chinelo... Era tão macio, e
eu adorava ir à escola com ele, pois naquele tempo tudo era muito difícil.
Nossa! É tão bom
estar aqui com você revivendo o passado que já ia me esquecendo de Delfim
Moreira, é o foco, né ? Deixe-me ver, eu me lembro das fábricas Colombo e
Cica... quantas pessoas trabalhavam lá preparando polpa de frutas para fazer
doces. Creio que a marmelada tenha sido o doce mais importante, afinal era até
exportado.
Ah, tempos bons eram
aqueles... muita gente vinha visitar nossa querida Delfim Moreira. Uhm, só de
lembrar dos doces da Colombo já dá água na boca! Tinha uma bananada numa lata
amarela que era muito especial. Hoje em dia, não há nada igual.
Mas divertimento mesmo
era passear de Maria-fumaça. Todo mundo gostava. No trem tinha uma inscrição RMV – Rede
Mineira de Viação, mas as moças normalistas, que estudavam fora iam cantando “ Ruim mais vai...” era uma farra! É, mas
o mais incrível, é que a Maria-fumaça se foi e ninguém sabe para onde... Isso
deixou muitos delfinenses aborrecidos.
Naqueles tempos,
Delfim Moreira tinha poucas casas e algumas ‘vendas’. Hoje, vejo como a cidade
cresceu, vários comércios, casas, ruas calçadas, transporte escolar... E que
bom que ainda temos o pontilhão, o casarão da praça, a estação, que hoje são
patrimônios de Delfim Moreira, para não nos esquecermos das histórias do
passado.
Cada fato da memória é como o universo...
Infinito de várias formas, mas que podem se resumir em poucas palavras: Alegria
de Reviver o Passado. Espero que você tenha gostado de me ouvir.
Um
abraço, Antônio.
Entrevistado: Antônio Miranda Neto-74 anos
Autor: Jeronimo Silva
Tempos que passaram, lembranças que ficaram
Oh , que saudades tenho daqueles tempos, quando eu
acordava com o canto do galo e dos passarinhos . Eu gostava de acordar bem
cedinho para ver a geada ... Mais tarde, já era possível ver melhor o verde
radiante das montanhas e o sol quente, veemente .
Depois , eu ia me arrumar pra ir à escola , que naquela época só tinha a
primeira e a segunda série . As crianças tinham que ir a pé pra escola,
atémesmo nos dias chuvosos . Antigamente, nosso material escolar era levado em
saco de arroz! Vou lhe fazer uma pergunta, a qual acho que você não saberá
responder: você sabe o que era a minha borracha ? Bem, minha borracha era um
pedaço de chinelo do tipo havaianas. Depois da escola, eu gostava de ajudar meu
pai na colheita e plantação da família. Nossa família plantava batata e frutas.
A gente comia o que plantava; a sobra vendíamos para as fábricas Cica, Colombo
e Mantiqueira. Interessante , eu nunca trabalhei nessas fábricas...
Minha
relação com meus pais ? Tudo bem, eu lhe
conto: minha relação com meus pais era muito boa, de muito respeito. Um pouco
diferente de hojeem dia , pois tem
alguns filhos que não respeitam mais seus pais ... Agora vou lhe contar como era minha casa ,
ela era assim : não era de pau a pique ,
ela era de tijolo e seu piso era de madeira. Era linda ! E era nesse lugar
gostoso que minha mãe fazia as roupas da família. Você sabe o que eu gostava de
fazer em casa ? Ficar rodeando minha mãe na cozinha. Eu amava comer a
“comidinha” que ela fazia, no fogão à lenha. Um dia descobri que não era sóisso
, ela usava também uns temperos especiais , mas que poucos conheciam :
amor , carinho e afeto . É, esses temperos fazem mesmo muita diferença .
Hoje em dia as crianças são tão desligadas, têm
tudo tão fácil, nem dão tanta importância para o Dia das Mães... Viajar
então... agora as crianças vão a todos os lugares. Em outros tempos nós só
viajávamos para Aparecida do Norte e era de caminhão. Como era bom... Lá eu
fazia questão de comprar um presente bom para minha mãe.
Nossa cidadeaté que se desenvolveu bastante e a
população cresceu.... Delfim Moreiraera visitada por gente de todo lugar , você não sabe o porquê, né? – era por
causa do marmelo e do queijo, que era e sempre será uma deliciosa combinação, e
nossa cidade também se enchia nas festas de fim de ano, porqueDelfim Moreira
também era conhecida pelo famoso vai e
vem, que era muito legal .
Que saudades tenho da minha juventude,quando eu
namorava, trabalhava e me divertia muito. Nos fins de semana, eu adorava pegar
a Maria- fumaça e ir praItajubá com meus amigos. A gentecurtia muito; eu chegava em casa por
volta de meia- noite . E quando arrumeiminha primeira namorada tive que fazer o
pedido pro pai da menina . Naquela época,
tínhamos que ter muito juízo e, principalmente, nós tínhamos que namorar perto
do pai da moça , era até engraçado porque a gente não podia nem pegar na mão
dela , era um namoro com muito respeito.
Ah,que
tempinho bom esse , pena que já passou e nem volta mais... Sabe, eu guardo
dentro de mim poucas, mas as mais importantes fases da minha vida , posso lhe
contar um segredo? Às vezes, eu mesmo me pego relembrando esse tempo e tento
revivê-lo novamente, mas por mais que euqueira, ele não voltará . Felizmente
que essas lembranças vão estar sempre em meu coração e em minhas memórias .
Entrevistado:Otávio
de Paula Xavier – 66 anos
Autoras: Mayara Patrícia de Carvalho-
Bruna Mikaelle de Carvalho
Só restam saudades
- Ah...
Uma entrevista? Nem sei por onde começar...Tem tantas histórias...
- Comece pelo lugar
onde a senhora morava, aí continua...
-
‘Tá’! Quando criança, eu morei nos Pintos dos Negreiros. Nós morávamos em uma
chácara, com meus pais e onze irmãos. Que saudades que sinto deles...
Cultivávamos ervilha, fumo e todotipo de lavoura .
Lembro-me
que para frequentar a escola era difícil, tínhamos de andar muito a pé, quando
não era no barro, era sob as geadas. Os meninos iam na frente pra empurrar o
gelo que estava na ponte , a qual ficava muito escorregadia .
Nessa
época, eu gostava de brincar de pega–pega, pular corda, peteca,
esconde–esconde, queimada ...mas tive que aprender o serviço de casa . Logo,
aos nove anos, já sabia lidar com o fogão à lenha e o ferro à brasa - tinha que
assoprar para funcionar.
-
Vó, que lembrançasa senhora guarda da cidade
Delfim Moreira?
-
Ah, eu vim morar aqui depois que me casei com seu avô, no ano de 1968 . Sabe,
nosso namoro começou numa festa lá nos Pintos dos Negreiros, e você nem imagina
como era diferente namorar naqueles tempos... A gente não tinha liberdade
alguma.
No começo, enfrentamos muitas dificuldades,
tínhamos uma sapataria de fabricação e consertos em geral . Apesar da luta,
tenho tanta saudade daquele tempo... Depois da fabricação, o Ildeu saía para
vender e entregar nos bairros em uma ‘vespa’, porque não tinha outra meio de
transporte. Com o tempo , compramos uma Kombi velha que facilitou as vendas e
as entregas .Depois, com a nossa situação um pouco melhor, adquirimos um
caminhão pequeno para vender frutas que comprávamos dos produtores .
Ainda com os filhos pequenos: Nilson, Nilsilene,
Vaner e Vanderson, abrimos o armazém e com o caminhão levávamos frutas para São
Paulo e Taubaté, e de lá trazíamos mercadoria para vender. Mais tarde,
construímos outro ponto que é o Supermercado Lorena, onde estamos trabalhando
hoje . Só que, agora, Ildeu passou a trabalhar somente como caminhoneiro e
deixou os filhos tomando conta dos negócios.
Como
é bom poder lembrar desses momentos... E não é só nossa vida que mudou, não.
Delfim também é outra cidade. Antigamente, na época das grandes plantações de
marmeleiros, as tropas e pequenos caminhões passavamjogando marmelo na rua para
as pessoas, era uma fartura ! As fábricas apitavam às 7 h quando os empregados
entravam ; às 11h , quando os empregados paravam para almoçar e na hora dos
empregados irem embora, até não me lembro bem se era 17 ou 18 h. Tempos depois,
as fábricas desativaram , e Delfim acabou ...
Até
os desfiles de 7 de setembro, eram mais bonitos, com carros alegóricos, com
todas as escolas desfilando , cada turma
representando uma história .Os alunos do ‘prezinho’ vestidos de insetos...uma belezinha!
Recordo-me que uma vez uma aluna do colegial desfilou vestida de PrincesaIsabel
, estava tão bem produzida!
E, neste ano de 2012 , o 7 de Setembro que é uma data tão especial para
o Brasil, parece que não teve tanta importância para Delfim .O que teve foi uma
simples caminhada; boa para a saúde pode até ser ,mas nada a ver com esta data.
Penso que as pessoas estão sabendo muito pouco sobre este fato histórico e o
evento nãoteve nenhum sentido .
Ah ! Hoje o que me resta é só saudade de tudo o que
passamos e vivemos.
Entrevistada : Aparecida Freitas De Lorena – 67
anos
Autores: Ana Luísa Macahiba Lorena
Gabriel José FortesAlves
O tempo
passa e a saudade aumenta...
Antigamente, Delfim Moreira era
uma cidade muito boa para se viver e bem diferente . Lembro-me que tinha uma
Maria-fumaça que era nossotransporte para
Itajubá, era muito gostosa essa viagem... e era tanta gente na estação,
uns chegando, outros partindo...
As ruas não eram calçadas, era tudo de terra,
os postes ficavam no meio da rua e quase não havia automóveis, eram mais
cavalos, burros e bagageiras. Sinto
muitas saudades... todo mundo aqui se conhecia, se falava, se ajudava....
Eu estudava na Escola Marquês de
Sapucaí, nossas professoras eram muito boas: era a Dona Marina, a Teresinha do
Chico Coletor... No recreio, eu me reunia com as amigas eficávamos
conversando... Éramos todos colegas e companheiros. Mas tinha uma coisa:os
meninos de um lado e meninas de outro. Veja como os tempos mudaram!
Sinto muitas saudades...Embora nessa época já
tivesse que dar duro para ajudar nas despesas da casa. É isso mesmo, aos oito anos eu já
trabalhava de babá. A nossa vida antigamente não era nada fácil... até para
namorar precisava do consentimento dos pais, pois eram muito rígidos. O namoro
era praticamente só paquera e ainda tinha horário para chegar em casa. E ai de
nós se andássemos fora da linha!
Antes de me casar, namorei durante
dois anos por carta... Quando assumi o namoro pra minha família, achei que iria
até apanhar, mas não, foi pior que isso. Meu irmão Dito impôs que eu namorasse,
noivasse e mecasasse em apenas cinco meses... Embora amasse muito meu namorado
era muito nova pra me casar, tinha apenas 19 anos. Masa gente não tinha
escolha...
Depois de casada , uma vez ao ano,
para ser mais precisa, no dia 15 de agosto, a família de meu marido viajava a
Aparecida do Norte para cumprir promessa, e essa era a única viagem que
fazíamos. Era um dia muito esperado. Era maravilhoso! Era também a única vez no
ano que comprávamos roupas e calçados para nossos filhos... Assim que chegava
de viagem, eu lavava as roupas, limpava os sapados e guardava numa mala pra que
eles tivessem roupas boas para o Natal.
Sabe, boa parte de minha vida eu
trabalhei na Colombo, uma fábrica de compotas que tinha aqui em Delfim Moreira,
mas infelizmente ela foi desativada...Lá a gente trabalhava bastante com
marmelo. Na época da safra, fazíamos muito serão. Os caminhões chegavam
carregados e nós tínhamos que selecionar os frutos que eram depositados em uma
esteira... depois de lavados, eram preparados para o cozimento em grandes
tachos. Em seguida, a massa era colocada em latas e ,assim, preparávamos a
carga para ir pra outra cidade que transformava a polpa em marmelada. Quando
terminava a safra de marmelo aqui na região -Marmelópolis, Virgínia e Delfim –
chegavam caminhões de marmelo do Uruguai e da Argentina . Também trabalhávamos
com figo e pêssego que vinham de Valinhos.
Já, nos meses de Junho e Julho era
época de laranjas. Nós as cortávamos pra tirar os gomos, ralávamos as cascas
num grande ralador e, assim, as cascas iam pro tanque onde ficavam de molho uns
três dias - período em que se trocava a água para eliminar o amargo da casca e
realizava uma fervura. Só depois desse processo, colocava-se o açúcar para
fazer a compota de casca de laranja. Era uma delícia! Depois da laranja, vinham
os caminhões de ervilha : as bainhas iam para a esteira, onde debulhávamos e
preparávamos os grãos para a fervura num tacho de salmoura. Depois iam para as
latas para colagem dos rótulos.
E o serviço não tinha fim. Logo,
chegavam os morangos nas caixas e nós , as mulheres, tirávamos os cabinhos de
um em um e separávamos os bons que iam pro tacho pra fazer a tão famosa geleia
de morango. De sábado pra domingo, tínhamos que atravessar a noite na fábrica
para que, nasegunda-feira, pudéssemos trabalhar com outros carregamentos de
frutas.
Com tanto serviço eu só voltava
para casa de madrugada, lavava as roupas, descansava um pouco e já era hora de
levantar pra preparar o café, arrumar as crianças que estudavam de manhã e ir
pra mais um dia de luta, era muito cansativo... Na hora do almoço, comia
correndo pra dar tempo de dar uma arrumada na casa, e olhar o dever das
crianças. É, Sabrina, a vida antigamente não era nada fácil...
Nos dias de hoje melhorou bastante o salário , as
pessoas têm mais conforto. A cidade também melhorou muito, agora tem mais
habitantes, ‘tá’ mais movimentada... Delfim cresceu e junto com ela a minha
saudade...
Entrevistada:
Georgina Rosa de Souza, 63 anos
Autora :
Sabrina de Souza Gusmão
Nenhum comentário:
Postar um comentário