segunda-feira, 15 de julho de 2013

Memórias...

Eu e a maria-fumaça

                                    
     Vou tentar lembrar, mas já passou um tempão, né? Não sei se vou me lembrar de tudo...

     O que você quer saber primeiro? Ah já sei, você que é adolescente deve querer saber como a gente namorava, né? Tá bom... Era assim: os meninos tinham que pedir a mão da menina em namoro ou em casamento, antes de começar a namorar... Isso mesmo, pedir a mão da menina em casamento antes de começar a namorar, você deve estar  achando isso um absurdo, mas era assim...

     Para ir à escola,a gente ia a cavalo ou a pé, aliás, íamos pra todo lado desse jeito.  Voltando pra escola, que mais eu  posso falar sobre ela...Ah... Talvez você ache estranho, mas antigamente nosso material não era levado em mochilinhas bonitas e sim em sacos de arroz. Você talvez ache horrível ir pra escola com o seu material dentro de saquinho de arroz, mas naquela época era normal.

     As brincadeiras... Ah as brincadeiras... eu adorava pular corda. Também tínhamos uma imaginação, até inventávamos algumas delas. E que legais que eram... E quando nós voltávamos da rua, minha mãe sempre estava nos esperando com uma sopade legumes deliciosa feita em um enorme caldeirão de ferro. Quando era menino não sabia o valor que isso tinha...

    Bem... O modo de se vestir era simples, os meninos com suas calças e camisas, às vezes, remendadas, e as meninas usavam vestidos bem longos coloridos, e agora você vai se assustar mesmo, todo mundo andava descalço, até para ir à roça, capinar e roçar era descalço. Não tinha nem chinelo naquela época.

 Agora falando de roçar e tal, eu me lembrei que  a terra era ótima para o cultivo, as sementes eram boas. Tanto eram boas que até sobrava, e aí o que sobrava nós vendíamos em Delfim, e comprávamos coisas muito gostosas e saborosas. Ah, como era bom o comércio antigamente...

   Lembro-me bem que, para compras íamos com carrinhos um pouco improvisados, amarrados com cordas, linhas e barbantes, ou até cipó ,mas era isso que os deixava tão especiais .

   A cidade cresceu muito ... Apareceram novos comércios que antes não existiam, mas em compensação anteshavia as fábricas, inclusive fábricas de doce, pois era uma fartura de frutas, que só vendo . Na safra do marmelo, eu gostava muito de sopa com queijo; era deliciosa e rica em vitaminas, assim minha mãe dizia.

  Ah e não posso me esquecer da "Maria -fumaça”, que quando acendia o fogo para sair eu ia lá esquentar minhas mãos! Hoje vejo o tempo como uma "Maria- fumaça”, ésempre  o mesmo, ele vai e volta , é como um ciclo... Mas,às vezes, quando ele volta  você já  não é mais o mesmo que um dia ficou feliz pelo simples fato de suas mãos estarem quentinhas...



Entrevistado: Antonio Sebastião de Sousa, 65 anos

Autoras: Izabel Nigro Bernardes
        Daiane Cristina Gonçal
ves   

A corrida do tempo
Que saudade dos meus tempos de infância... tanta pureza... tantos sonhos...um tempo que marcou minha vida .
Lembro-me quando ainda era tão pequena e gostava de ajudar minha mãe. Ela que era tão meiga de pele e olhos claros. Como era bom!
Adorava viver na roça, com minha mãe e meus seis irmãos;meu pai havia morrido quando eu completei 10 anos. Olha que a vida corre, hoje só me restaram dois irmãos, e que falta os outros me fazem... Sinto muita saudade.
Lembro-me de quando acordava cedo com o galo cantando, o bom cheiro do café e rosca feitos em casa. Quando saía pra aula, o ar frio tocava meu rosto, o sol surgindo... Tudo branco por causa da geada, era até bonito de se ver!!!
Na escola, o tempo passava rápido e, logo, acabava a aula... O sinal tocava e nós, como pássaros esperando a liberdade dentro de uma gaiola, saíamos correndo para festejar!
Então, íamos pra cachoeira nadar, como era gostoso tomar banho de cachoeira, sentir a água fria beijar minha pele, estremecer de alegria e gritar saudando a liberdade e a natureza que, em festa, exibia montes de espuma... minha infância foi ótima, nunca me esquecerei... e que lembranças maravilhosas!
Minha escola, ahh...minha escola era ampla e bonita, parecia um grande salão, localizava-se  onde hoje é o hotel São João. Eu adorava estudar junto com minha irmã Belmira e nossas professoras Santinha, Geralda, Filomena, Colária e a mais brava, a Dona Bezinha, que até nos deixava de castigo no grão de milho. Minha neta, não pense que é mentira não, na minha época havia o castigo mesmo!!! Ahhh... Mesmo assim, sinto saudades da escola e dos meus amigos.
Terminada a aula, vinha pra casa e tomava café com farinha, que delícia que era!!! Depois, eu saía pra rua a brincar. Era tão bom... me jogava na grama, olhava pro céu, contava as estrelas e, então, via que já estava noite e entrava em casa; rezávamos e íamos jantar todos juntos. Mais tarde, contávamos histórias.
Não posso deixar de lembrar da “Maria-fumaça” que partiu faz 55 anos... deixando muita saudade! Foi sem se despedir...
Lembro-me das fábricas CICA, COLOMBO, MANTIQUEIRA, PEIXE e FRUTICULTORES, todas faziam doce, principalmente o de marmelo. Era lindo de se ver, era uma fartura... um cheiro que nos perseguia de longe. E o amarelo predominava na paisagem... tanta beleza que encantava os olhos.
Eu...eu desfrutava disso tudo. Fazia questão de ajudar colher; até cheguei a trabalhar na Colombo. Era bom demais... eu adorava banhar os marmelos, aquela água gelada que batia e voltava com seu frescor!!!
Preparávamos as embalagens bem coloridas e diversificadas, eram lindas! Então, colocávamos os doces e levávamos para as vitrines que brilhavam, era uma fábrica arrumada, cheirosa; dava gosto de trabalhar lá!!! Como esse tempo corre, hein!?
As festas?  As festas de Delfim eram ótimas, não são como as de hoje... Antes havia vários bailes com sanfoneiros e violeiros. Hoje, há poucas festas e não são tão animadas. Em meu tempo, era o padre Martinho, um padre muito animado, que dava apoio à comunidade, ele recebia todos de braços abertos. Ah, uma curiosidade, as festas natalinas eram comemoradas em novembro.
Eu nunca me esquecerei do circo “POKAROUPA”, o melhor circo que já veio aqui em Delfim Moreira...Eu tinha apenas 17 anos...Era o ano de 1951...
Nossa, como o tempo passa rápido! E eu já estou atrasada, tenho que ir minha neta. Depois lhe contarei das nossas brincadeiras, uma delas era pular barrancos, você vai rir muito! Mas agora seu avô está me esperando. Precisa que eu assine a entrevista? De qualquer forma é melhor assinar
                                   Francisca Siqueira de Castro -1934
            Vou indo porque o tempo não espera.

Entrevistada : Francisca Siqueira de Castro – 78 anos
Autora: Mariana Santos Siqueira







Entre amigas

- Bom dia,Carmem, quanto tempo. Que bom que você veio para conversarmos com nossas netas!
- Bom dia, Nelsa. Então, as meninas querem saber dos nossos tempos de outrora. E nesses dias, estava me lembrando daquele nosso tempo de menina  ... Lembra que não podíamos namorar como agora ? Não podíamos nem pegar na mão... tínhamos que namorar pelo “buraquinho” da porta, hahaha... 
- É, me lembro sim, haha... Os pais só nos davam "liberdade" para namorar depois dos 16 anos e, logo apósalguns meses, já nos casávamos. Nossa, também me lembro que para ir a escola tínhamos que andar no mínimo uns 40 minutos, pois não havia ônibus. Que preguiça que nos dava, né ?! 
-É  Nelsa, tinha dia que nem me dava vontade de ir à escola; ia porque a escola era boa, e adorávamos jogar bola, brincar de pique, cobra-cega e pular carniça na hora do recreio! Ahh... a vida era muito difícil ... As mães eram muito exigentes, tínhamos que ajudar na roça todos os dias. E comprávamos tudo do mais barato,só o necessário. 
- Ah, Carmem, é verdade. Nós nem tínhamos essa variedade de caneta como agora, muito menos computador. Lembro-me que antes escrevíamos com pena e tinteiro. Ah, como eu gostava... 
- Então né... Os tempos mudaram e a nossa cidade cresceu muito. Havia muitas fábricasde polpa de marmelo, alguns laticínios... ! Eu me lembro dos apitos das fábricas, da movimentação dos operários... Ah, era tudo muito bom !
- Bom, minhas netas , acho que já falamos muito, né ? Se pudéssemos, ficaríamos aqui o dia inteiro relembrando os velhos tempos, que foram e não voltam mais. Mas o tempo passa, e apesar de ter sido muito difícil, fomos e somos muito felizes !Hummmm ... E que tal irmos agora fazer um bolão de fubá ?

Entrevistadas :
 Maria do Carmo Rodrigues da Silva, 70 anos
Nelsa Aparecida Nunes Ribeiro, 74 anos


Autoras: Alana Carolina Coura
RhayaneThamires Andrade






                                                              Viagem ao passado

               Nasci em Piquete –SP , mas desde muito pequeno  vivo aqui em Delfim Moreira , uma bela cidade, pequena no tamanho, mas ampla o suficiente para guardar muitas recordações, ahhh… e que recordações !  Tão boas que decidi compartilhá-las com vocês . Vamos embarcar neste vagão ?
Bem … lembro-me dos marmeleiros carregados, que perfume.... que frutos deliciosos...   deixavam  a gente  com água na boca . Quanta fartura! Hum…
              Tambémtenho   muitas lembranças da escola … era muito diferente das escolas de hoje e muito , muito mais difícil , pois os castigos eram bem mais rigorosos : os alunos tinham que ficar ajoelhados nos grãos de milho , enquanto os educadores soltavam bombinhas em volta . Mas, mesmo assim, eu gostava , era muito bom ! Infelizmente todoesse  gosto durou pouco ... estudei apenas até o 2º ano . Minha vontade era seguirem frente nos estudos, junto com meus companheiros , mas tive que  aprender com a vida … Não pude frequentar por mais tempo a escola  , porque minha mãe trabalhava na colheita de marmelo , já meu pai era peão e amansava burros , cavalos  e bois , foi aí que surgiu meu apelido “João Peão” . Tinha 11 irmãos e, como era o mais velho, ficava encarregado de educá–los, era  praticamente o pai deles … Minha vida nunca foi fácil , mas  me diverti muito no passado !
Ah … Já estava me esquecendo , não posso deixar de falar da Maria-fumaça  que, sem dúvida , trilhou o coração de todo delfinense e que, infelizmente, um dia foi embora , e nunca mais voltou …
Éééé … eu disse que minha vida nunca foi fácil , mas pensando bem … difícil é ver tudo isso se acabando assim… Ainda bem que  as  memórias  não morrem.
           Voltemos à estação ,  sempre que quiser  fazer uma viagem ao passado,me chamem !

Entrevistado : João de Oliveira Santos- 64 anos
Autora : Ana Cecília dos Santos Pinto


Alegria de Viver
  Vivi um bom tempo no Caquende, em uma bela fazenda com muitas árvores cheias de frutas que perfumavam o ar; as flores alegrando o dia… Morava com meu pai , minha mãe e meus irmãos , ah tempo bom!  Brincava de pique montanhas afora, e gostava muito de caçar rã.  De manhã, ao acordar, adorava ir ver tirar leite da vaca, aquele leite branquinho, cheio de espuma ,uma delicia ! E minhas professoras ...Dona Genilda , Dona Marina , Dona Elisa … que saudade!   Meus colegas Russo e Carcinha... O sinal tocava e eu e eles já estávamosbrincando de bolinha de gude , peteca… Às vezes, brigávamos,  mas todos amigos brigam , faz parte. Saudades dos meus colegas , das brincadeiras... momentos que ficaram marcados na minha vida .
         Ah, como eu gostava de ir à Itajubácom meu pai de Maria- fumaça. Quandoela ia chegando, escutava o barulho e meu coração se enchia de alegria! Depois, na volta, antes de chegar  na estação , eu e meu pai pulávamos do trem em movimento... Isso para mim era uma farra. Eu não aconselho ninguém a fazer isso.
 E os campeonatos de futebol, então! Como eu gostava... Joguei desde os meus 10 anos ,e quando fazia um gol era uma festa! Os jogadores vinhamme abraçar e comemorar . Lembro-me como se fosse hoje . Bem, o povo delfinense sempre gostou de assistir um jogo de futebol. Iam de manhã e voltavam só de tardezinha para casa . Nos finais de campeonato contra cidades da região,todos ficavam apreensivos para saber  quem seria o campeão . Nesses dias, os “picolezeiros” ganhavam muito dinheiro...  E olha que as condições do campo não eram grande coisa, a grama era seca, não tinha grade para separar os torcedores dos que estavam jogando… mas no fundo, todo mundo gostava, pois era a única forma de diversão  … Ah, saudades desses bons tempos … !
Meu pai , o tio Carmelo , como todos conheceram , foi um grande incentivador do futebol. Como ele fez história no gramado... e quantos apelidos ele deixou como herança desses tempos... . Marcou a história da cidade. Tambémera um homem muito caridoso, muito religioso, participava da missa todos os domingos . Não me esqueço de quando juntos puxávamos tropas de batata, um trabalho difícil ; acordávamos cedo , com aquele frio , um vento forte e gelado, mas eu gostava. Depois,no depósito, trabalhávamos na ensaca.
Ahhh, e a pescaria... lembro-me como se fosse hoje: eu , meu pai e meus amigos saíamos de madrugada naquele friozinho, mas como valia a pena ! Passávamos o dia todo em Olegário Maciel e, na volta, já era tradição uma paradinha no meio do caminho para jogar sinuca , e quem ganhava do meu pai ? Ninguém . Ele sempre foi o campeão e ainda era o maior contador de papo. Quantas saudades... momentos incríveis e marcantes na minha vida. É, o nosso “tio Carmelo” se foi, mas ele estará sempre em nossas lembranças  e em nossos corações .
            Agora tenho que ir, pois a vida é curta e tenho que aproveitá-la um pouco mais .

Entrevistado:      Nilton Silva 68 anos
Autora : Milena Silva Cunha

Simplesmente vida


No dia três de agosto, a Dona Ana, avó de uma de nossas colegas, veio nos visitar. Nós a entrevistamos e ela foi falando mais ou menos assim:
“Me lembro como se fosse hoje de quando morava em Maria da Fé e adorava brincar com uma espiga de milho como se ela fosse minha boneca. Pegava um sapinho novinho e colocava roupinha nele. Quando meu pai achava aquelas ninhadas de ratos, eu pegava-os e os amarrava com barbante, fazendo daqueles pequenos animais a minha boiada. Fazia também cavalinhos de chuchu e de batata.
Tive onze irmãos, mas hoje só restam três. Desde muito pequena trabalhei na roça com meus pais. Tudo que sei hoje aprendi com eles. A gente se vestia de maneira muito simples. Nossas roupas eram feitas de saco branco - daqueles que vinham com açúcar - tingido de várias cores. Calçados não usávamos de maneira nenhuma. Era ‘pé no chão, pé na geada, pé rachado’. Chegava até a sair sangue.
Minha casa era coberta de sapé. Chão, parede e fogão eram feitos de barro misturado com cocô de vaca para ficar mais resistente.
Nossa diversão era ir à missa aos domingos e voltar direto pra casa. Participávamos também das festas da Semana Santa e de Fim de Ano.  Do carnaval, só ouvíamos falar. Meu pai proibia a gente até de olhar.
O meio de transporte mais usado por nós naquela época era a Maria-fumaça. Porém, viajávamos para Aparecida do Norte, nas romarias, num caminhão coberto com lona e com tábuas atravessadas na carroceria, que serviam de banco. Levava umas quatro horas para chegar até lá. Estrada de terra, com muita poeira. Íamos e voltávamos rezando e cantando. Era só alegria!
Quando conheci meu marido, estava morando em Guaratinguetá. Ele foi trabalhar com o meu pai, numa olaria. Já estava de olho em mim há muito tempo. Passava na porta da minha casa e pedia para o meu pai um copo d’água, um foguinho para acender o cigarro... até que criou coragem e pediu a minha mão. Meu pai permitiu que namorássemos, mas só dentro de casa, sob os olhares dele e de minha mãe. Aliás, não podíamos nem pegar na mão e, beijo... só depois de casados.
Namoramos durante oito meses e nos casamos só com a roupa do corpo. Nossa cama era feita com quatro estacas fincadas no chão que sustentavam um jirau e um colchão de pano cheio de palha seca, feito por mim mesma. As panelas eram latas de óleo vazias cuja tinta era removida depois de as deixarmos de molho em água com cinza. Ficavam brilhando que era uma beleza! Apesar da nossa pobreza, éramos muito felizes porque já nos amávamos tanto quanto agora e olha que estamos casados há 53 anos!
Atualmente, o que me faz muito feliz é quando meus filhos, netos e bisnetos vêm para minha casa. Isso sim é muito importante para mim: ter a família reunida.”
Dona Ana despediu-se de nós com um sorriso alegre e confiante, ciente de ter passado para mim e para meus colegas um pouco da felicidade que traz consigo.

Ana Paula Ribeiro


O tempo que não volta

- Vó, você  poderia me contar um conto de fadas?
- Mas, minha neta, você se esqueceu que eu não sei ler? E depois,já se passaram tantos anos...Você já deve ter esquecido que eu estudei só até a 4ª série... Mas na mente sempre ficam algumas lembranças, e tenho uma que você vai amar !
“Oh, tempinho bom aquele que eu brincava de boneca com minha irmã! Bem, você vai rir, mas não era exatamente uma boneca, nós pegávamos os gatos e fazíamos roupas pra eles .E além disso, fazíamos bonecos de verduras!
Saudade? Saudade tenho é da escola... quando chovia fazia aquele barro que você nem imagina; e o pior é que todos chegavam sujos na sala de aula! Naquele tempo, não tinha ônibus  não , e a estrada era de barro vermelho! Lembro-me como se fosse hoje quando arrumei um namorado: era eu e ele de um lado e papai do outro    , imagina que cena engraçada !
Eu e papai vivíamos brigando, mas ele era um pai bom que vivia nos aconselhando. Às vezes, passávamos madrugadas a conversar.
O porquê da saia abaixo do joelho? Nem sei direito... Lembro-me que um dia, há muito tempo, ganhei uma saia curta acima do joelho e meu pai a rasgou em meu corpo e disse que eu só poderia usar saias abaixo do joelho; e nossos sapatos eram de couro, que papai mesmo fazia, e que eram também usados para nos bater.
Viajar? Ahn... eu nunca viajei porque sem dinheiro ninguém viajava. É, a vida naquele tempo não era nada fácil. Nós, mulheres, trabalhávamos igual aos homens na roça; eu carpia, plantava e colhia todos osdias. E, graças a Deus, nunca passamos fome.
Agora a saudade me bate, e a única coisa que me resta são as lembranças...ahh, e que saudade das festas! Aconteciam de mês em mês na igreja.... Parando pra pensar, hoje em dia não há mais festas na igreja, mas deixe-me continuar! Natal, Festa Junina, Carnaval eExposições nosso pai não deixava ir de jeito nenhum. Em celebrações religiosas íamos com nossos pais e, após a missa, tinha comida e bebida de graça, além de uma banda que tocava músicas antigas e bonitas!
Oh tempinho bom, que não tem mais volta... Lembro-me muito bem, quando apanhei porque fui no carnaval escondida, mas apesar das chicotadas foi muito bom, porque me diverti à beça. Comi balas até... Naquele tempo era uma por dia para cada irmão, imagine só! Mamãe não deixava a gente chupar muitas balas , porque dentista ‘grátis’ naquele tempo não tinha.
Hoje em dia, acho tão estranho eu ganhar presentes em meu aniversário, porque antes até um simples parabéns era difícil receber . Viu só minha netinha ? Vocêainda reclama por ganhar poucos presentes...
Às vezes, paro a pensar por que será que as casas são tão chiques, hoje ? Antes as casas eram de pau a pique, o chão de barro; jáa dos mais ricos tinha até assoalho. Essa desigualdade social, cada vez mais, separa as pessoas...
Ah, era tão bom quando meu irmão ia bem cedinho pegar o leite na porteira  que o próprio leiteiro deixava; comíamos bolo de fubá com um copo de café com leite bem quentinho.
E as costureiras daqueles tempos iam apenas nas casas de gente mais abastada, e se nós quiséssemos encomendar roupas, tínhamos que correr atrás delas...
Mas a melhorparte disso tudo eram as fábricas. Minha mãetrabalhou numa delas, pena que nós não recordamos muito bem, mas com razão, já se passaram tantos anos! Até parece, que foi num piscar de olhos.
Bom minha querida netinha, vou ficando por aqui. Tenho que ir dormir, já é muito tarde. Que pena que você dormiu! Foi tão bom recordar o passado e espero que você possa viver muitas aventuras para contar a seus netos algum dia!”
Entrevistada : Leonor Francisca Nunes Silva- 60 anos
Autora :Janaina Nayara Moraes




No último vagão
“Nasci em Itajubá e nossa família mudou-se para Delfim Moreira quando eu tinha doze anos. Na minha infância, gostava de brincar de maré, de casinha, de fazer comidinha, de roda e de bicicleta. Éramos dez irmãos, mas dois deles morreram ainda novinhos. Tomávamos banho de bacia porque naquele tempo não havia chuveiro em nossa casa. Primeiro lavávamos os cabelos e depois o resto do corpo.
Andei muito de Maria-fumaça. Gostava de ficar no último vagão para acenar para as pessoas que passavam na rua. Também andei de charrete e de carro de boi.
Na quarta série primária, fiz de tudo para levar bomba e poder estudar na escola nova que seria inaugurada no ano seguinte: o Grupo Escolar Marquês de Sapucaí. Para grande surpresa da professora, consegui o que queria.
Meu pai era dentista e minha mãe doméstica. Meu único emprego foi na fábrica de marmelo. Que saudades eu sinto do cheirinho delicioso dessa fruta que era tão comum naquele tempo e, hoje, quase não se vê mais por aqui.
Eu gostava de participar da missa com as Filhas de Maria – espécie de congregação da igreja católica. Depois da missa, meu pai permitia que eu ficasse passeando na praça até às 21h. Se chegasse cinco minutos atrasada, ele estaria me esperando atrás da porta... e eu  ficava uma semana de castigo, sem sair nem na janela!
Ah, quanto ao namoro, conheci meu marido numa brincadeira de baralho, na casa de dona Juquita, nossa vizinha, minha futura sogra. Eu e minha irmã mais nova,Isaura, que tinha apenas seis anos,  íamos para lá e o Tião, filho da Dona Juquita, dizia que era namorado da Isaura. E assim foi por algum tempo até que chegou um primo do Tião e disse que ele é que era o namorado da minha irmã. O Tião disse que ia ficar sozinho e eu falei que ele só ficaria sozinho se quisesse, porque eu estava ali... Desse dia em diante, começamos a namorar. Namoramos por um ano e depois marcamos o casamento. Apesar de ele estar desempregado, nos casamosporque o meu pai disse que não admitia enrolação. Casamos com a cara e a coragem, durante uma das missas das Filhas de Maria, como era costume naquela época. E não era que nem hoje, que os noivos fazem listas de presentes. Eu e o Tião ganhamos meia dúzia de xícaras de café de um dos padrinhos e outras coisinhas simples.
Nesses anos todos, muitas coisas aconteceram, alegres e tristes. Hoje sou feliz com meus filhos, netos e bisnetos e mais feliz ainda porque estou casada há mais de cinquenta anos com a pessoa mais maravilhosa que já conheci...”
Então, é essa a história que Dona Nely nos contou com muita alegria, na ocasião emque nos visitou em sala de aula.
Wiebke Cipas Perhs


 Pedaços de história

Eu nasci no bairro Caquende, como lá era gostoso... Só de pensar, sinto o vento trazendo o aroma das deliciosas frutas... Naquele pedaço de chão,fui criada com meus oito irmãos: Adilson, Nilton, Carmelo, João Batista, Vera, Tereza, Rosa e Paulo Renato, todos muito queridos. Meu pai era Carmelo Conti, o Tio Carmelo; difícil quem não o conheceu,famoso por suas histórias e os inesquecíveis apelidos; ele sempre participou do futebol delfinense. Jáminha mãe, Aurora Duarte, era querida e conhecida por sua bondade e infinita vontade de ajudar os outros. Também moravam conosco meus avós, Vó Branquinha e Vô Zeca , que saudade!
Recordo-me daqueles bons tempos: Papai pedia todas as noites para pentearmos seus cabelos...
Sempre que podíamos eu e meu irmão Melo íamos pescar na Água Limpa. Naquela época, a água ainda era limpa e cristalina da qualtirávamos os pequenos peixes com apenas uma peneira. A imagem das brincadeiras e artes que eu aprontava com meus irmãos nunca saiu da minha memória - todos brincavam de pular-corda, pique, peteca... e a gente adorava andar a cavalo. E os piqueniques então, eram deliciosos... bolachas, doces, balas e refrigerantes de diversos sabores, uma fartura!
Já em outra parte da minha história,também muito animada e divertida, aconteciam os bailes que eram muito animados nos quais tocavam tango, valsa e o famoso baião. Ali dançávamos e passávamos bons momentos...
Ah, e o passeio de Maria-fumaça, que embalava nossas conversas e nossos sonhos. Lembro- me um dia em que eu e minhas amigas Cida e Regina íamos para Itajubá e o trem tombou. Foi um grande desespero... Felizmente, que todos nós conseguimos sair do vagão e tudo ficou bem.
Aos quatorze anos, fui para Piquete-SP morar com a minha avó . Lá também era muito bom, mas sempre preferi minha adorada Delfim Moreira-MG. Voltei , quando o Ginásio se iniciou por aqui...
 E, neste lugar, fiz minha história, tive cinco filhos Denis, Denize, Deise, Deivid e Daniele, que me deram dez maravilhosos netos .
Minha família é minha vida, e com eles sou feliz, graças a Deus.


Entrevistada : Dalva Maria da Silva Rodrigues- 63 anos
Autor : João Valadão de Mello Neto



Alegria de Reviver o Passado

  Ah, que alegria me recordar dos meus tempos de criança! Eu brincava de pular corda, pique-esconde... eram tantas as travessuras... Interessante que hoje as crianças não sabem nem brincar!
  E minha escola... Era tão bonita! Meus amigos... Tão legais. Pena que eu estudei pouco, nem me recordo até que série, pois tive de sair da escola para ajudar meu pai. Antigamente, não tinha moleza, não! Tínhamos que trabalhar para garantir o sustento da família.
  Lembro-me e me emociono de quando ganhei de meu pai meu primeiro chinelo... Era tão macio, e eu adorava ir à escola com ele, pois naquele tempo tudo era muito difícil.
  Nossa! É tão bom estar aqui com você revivendo o passado que já ia me esquecendo de Delfim Moreira, é o foco, né ? Deixe-me ver, eu me lembro das fábricas Colombo e Cica... quantas pessoas trabalhavam lá preparando polpa de frutas para fazer doces. Creio que a marmelada tenha sido o doce mais importante, afinal era até exportado.
  Ah, tempos bons eram aqueles... muita gente vinha visitar nossa querida Delfim Moreira. Uhm, só de lembrar dos doces da Colombo já dá água na boca! Tinha uma bananada numa lata amarela que era muito especial. Hoje em dia, não há nada igual.
 Mas divertimento mesmo era passear de Maria-fumaça. Todo mundo gostava.  No trem tinha uma inscrição RMV – Rede Mineira de Viação, mas as moças normalistas, que estudavam fora iam cantando “ Ruim mais vai...” era uma farra! É, mas o mais incrível, é que a Maria-fumaça se foi e ninguém sabe para onde... Isso deixou muitos delfinenses aborrecidos. 
  Naqueles tempos, Delfim Moreira tinha poucas casas e algumas ‘vendas’. Hoje, vejo como a cidade cresceu, vários comércios, casas, ruas calçadas, transporte escolar... E que bom que ainda temos o pontilhão, o casarão da praça, a estação, que hoje são patrimônios de Delfim Moreira, para não nos esquecermos das histórias do passado.
    Cada fato da memória é como o universo... Infinito de várias formas, mas que podem se resumir em poucas palavras: Alegria de Reviver o Passado. Espero que você tenha gostado de me ouvir.
Um abraço, Antônio.

Entrevistado: Antônio Miranda Neto-74 anos
Autor: Jeronimo Silva

Tempos que passaram, lembranças que ficaram

Oh , que saudades tenho daqueles tempos, quando eu acordava com o canto do galo e dos passarinhos . Eu gostava de acordar bem cedinho para ver a geada ... Mais tarde, já era possível ver melhor o verde radiante das montanhas e o sol quente, veemente .
Depois , eu ia me arrumar pra ir à  escola , que naquela época só tinha a primeira e a segunda série . As crianças tinham que ir a pé pra escola, atémesmo nos dias chuvosos . Antigamente, nosso material escolar era levado em saco de arroz! Vou lhe fazer uma pergunta, a qual acho que você não saberá responder: você sabe o que era a minha borracha ? Bem, minha borracha era um pedaço de chinelo do tipo havaianas. Depois da escola, eu gostava de ajudar meu pai na colheita e plantação da família. Nossa família plantava batata e frutas. A gente comia o que plantava; a sobra vendíamos para as fábricas Cica, Colombo e Mantiqueira. Interessante , eu nunca trabalhei nessas fábricas...
    Minha relação com meus pais ?  Tudo bem, eu lhe conto: minha relação com meus pais era muito boa, de muito respeito. Um pouco diferente de hojeem dia , pois  tem alguns filhos que não respeitam mais seus pais ...  Agora vou lhe contar como era minha casa , ela era assim :  não era de pau a pique , ela era de tijolo e seu piso era de madeira. Era linda ! E era nesse lugar gostoso que minha mãe fazia as roupas da família. Você sabe o que eu gostava de fazer em casa ? Ficar rodeando minha mãe na cozinha. Eu amava comer a “comidinha” que ela fazia, no fogão à lenha. Um dia descobri que não era sóisso , ela usava também uns temperos especiais , mas que poucos  conheciam :  amor , carinho e afeto . É, esses temperos fazem mesmo muita diferença .
Hoje em dia as crianças são tão desligadas, têm tudo tão fácil, nem dão tanta importância para o Dia das Mães... Viajar então... agora as crianças vão a todos os lugares. Em outros tempos nós só viajávamos para Aparecida do Norte e era de caminhão. Como era bom... Lá eu fazia questão de comprar um presente bom para minha mãe.
Nossa cidadeaté que se desenvolveu bastante e a população cresceu.... Delfim Moreiraera visitada por gente de todo  lugar , você não sabe o porquê, né? – era por causa do marmelo e do queijo, que era e sempre será uma deliciosa combinação, e nossa cidade também se enchia nas festas de fim de ano, porqueDelfim Moreira também  era conhecida pelo famoso vai e vem, que era muito legal .
Que saudades tenho da minha juventude,quando eu namorava, trabalhava e me divertia muito. Nos fins de semana, eu adorava pegar a Maria- fumaça e ir praItajubá com meus amigos.  A gentecurtia muito; eu chegava em casa por volta de meia- noite . E quando arrumeiminha primeira namorada tive que fazer o pedido  pro pai da menina . Naquela época, tínhamos que ter muito juízo e, principalmente, nós tínhamos que namorar perto do pai da moça , era até engraçado porque a gente não podia nem pegar na mão dela , era um namoro com muito respeito.
    Ah,que tempinho bom esse , pena que já passou e nem volta mais... Sabe, eu guardo dentro de mim poucas, mas as mais importantes fases da minha vida , posso lhe contar um segredo? Às vezes, eu mesmo me pego relembrando esse tempo e tento revivê-lo novamente, mas por mais que euqueira, ele não voltará . Felizmente que essas lembranças vão estar sempre em meu coração e em minhas memórias .


Entrevistado:Otávio de Paula Xavier – 66 anos
                                                                   Autoras: Mayara Patrícia de Carvalho-
                  Bruna Mikaelle de Carvalho

Só restam saudades

­­­- Ah... Uma entrevista? Nem sei por onde começar...Tem tantas histórias...
            - Comece pelo lugar onde a senhora morava, aí continua...
            - ‘Tá’! Quando criança, eu morei nos Pintos dos Negreiros. Nós morávamos em uma chácara, com meus pais e onze irmãos. Que saudades que sinto deles... Cultivávamos ervilha, fumo e todotipo de lavoura .
            Lembro-me que para frequentar a escola era difícil, tínhamos de andar muito a pé, quando não era no barro, era sob as geadas. Os meninos iam na frente pra empurrar o gelo que estava na ponte , a qual ficava muito escorregadia .
            Nessa época, eu gostava de brincar de pega–pega, pular corda, peteca, esconde–esconde, queimada ...mas tive que aprender o serviço de casa . Logo, aos nove anos, já sabia lidar com o fogão à lenha e o ferro à brasa - tinha que assoprar para funcionar.
            - Vó, que lembrançasa senhora guarda da cidade  Delfim Moreira?
            - Ah, eu vim morar aqui depois que me casei com seu avô, no ano de 1968 . Sabe, nosso namoro começou numa festa lá nos Pintos dos Negreiros, e você nem imagina como era diferente namorar naqueles tempos... A gente não tinha liberdade alguma.  
No começo, enfrentamos muitas dificuldades, tínhamos uma sapataria de fabricação e consertos em geral . Apesar da luta, tenho tanta saudade daquele tempo... Depois da fabricação, o Ildeu saía para vender e entregar nos bairros em uma ‘vespa’, porque não tinha outra meio de transporte. Com o tempo , compramos uma Kombi velha que facilitou as vendas e as entregas .Depois, com a nossa situação um pouco melhor, adquirimos um caminhão pequeno para vender frutas que comprávamos dos produtores .
Ainda com os filhos pequenos: Nilson, Nilsilene, Vaner e Vanderson, abrimos o armazém e com o caminhão levávamos frutas para São Paulo e Taubaté, e de lá trazíamos mercadoria para vender. Mais tarde, construímos outro ponto que é o Supermercado Lorena, onde estamos trabalhando hoje . Só que, agora, Ildeu passou a trabalhar somente como caminhoneiro e deixou os filhos tomando conta dos negócios.
            Como é bom poder lembrar desses momentos... E não é só nossa vida que mudou, não. Delfim também é outra cidade. Antigamente, na época das grandes plantações de marmeleiros, as tropas e pequenos caminhões passavamjogando marmelo na rua para as pessoas, era uma fartura ! As fábricas apitavam às 7 h quando os empregados entravam ; às 11h , quando os empregados paravam para almoçar e na hora dos empregados irem embora, até não me lembro bem se era 17 ou 18 h. Tempos depois, as fábricas desativaram , e Delfim acabou ...
            Até os desfiles de 7 de setembro, eram mais bonitos, com carros alegóricos, com todas as escolas desfilando , cada turma  representando uma história .Os alunos do ‘prezinho’  vestidos de insetos...uma belezinha! Recordo-me que uma vez uma aluna do colegial desfilou vestida de PrincesaIsabel , estava tão bem produzida!
            E, neste ano de 2012 , o 7 de Setembro que é uma data tão especial para o Brasil, parece que não teve tanta importância para Delfim .O que teve foi uma simples caminhada; boa para a saúde pode até ser ,mas nada a ver com esta data. Penso que as pessoas estão sabendo muito pouco sobre este fato histórico e o evento nãoteve nenhum sentido .
Ah ! Hoje o que me resta é só saudade de tudo o que passamos e vivemos.

Entrevistada : Aparecida Freitas De Lorena – 67 anos
Autores: Ana Luísa Macahiba Lorena
Gabriel José FortesAlves




O tempo passa e a saudade aumenta...

Antigamente, Delfim Moreira era uma cidade muito boa para se viver e bem diferente . Lembro-me que tinha uma Maria-fumaça que era nossotransporte para  Itajubá, era muito gostosa essa viagem... e era tanta gente na estação, uns chegando, outros partindo...
 As ruas não eram calçadas, era tudo de terra, os postes ficavam no meio da rua e quase não havia automóveis, eram mais cavalos, burros e bagageiras.  Sinto muitas saudades... todo mundo aqui se conhecia, se falava, se ajudava....
Eu estudava na Escola Marquês de Sapucaí, nossas professoras eram muito boas: era a Dona Marina, a Teresinha do Chico Coletor... No recreio, eu me reunia com as amigas eficávamos conversando... Éramos todos colegas e companheiros. Mas tinha uma coisa:os meninos de um lado e meninas de outro. Veja como os tempos mudaram!
 Sinto muitas saudades...Embora nessa época já tivesse que dar duro para ajudar nas despesas  da casa. É isso mesmo, aos oito anos eu já trabalhava de babá. A nossa vida antigamente não era nada fácil... até para namorar precisava do consentimento dos pais, pois eram muito rígidos. O namoro era praticamente só paquera e ainda tinha horário para chegar em casa. E ai de nós se andássemos fora da linha!
Antes de me casar, namorei durante dois anos por carta... Quando assumi o namoro pra minha família, achei que iria até apanhar, mas não, foi pior que isso. Meu irmão Dito impôs que eu namorasse, noivasse e mecasasse em apenas cinco meses... Embora amasse muito meu namorado era muito nova pra me casar, tinha apenas 19 anos. Masa gente não tinha escolha...
Depois de casada , uma vez ao ano, para ser mais precisa, no dia 15 de agosto, a família de meu marido viajava a Aparecida do Norte para cumprir promessa, e essa era a única viagem que fazíamos. Era um dia muito esperado. Era maravilhoso! Era também a única vez no ano que comprávamos roupas e calçados para nossos filhos... Assim que chegava de viagem, eu lavava as roupas, limpava os sapados e guardava numa mala pra que eles tivessem roupas boas para o Natal.
Sabe, boa parte de minha vida eu trabalhei na Colombo, uma fábrica de compotas que tinha aqui em Delfim Moreira, mas infelizmente ela foi desativada...Lá a gente trabalhava bastante com marmelo. Na época da safra, fazíamos muito serão. Os caminhões chegavam carregados e nós tínhamos que selecionar os frutos que eram depositados em uma esteira... depois de lavados, eram preparados para o cozimento em grandes tachos. Em seguida, a massa era colocada em latas e ,assim, preparávamos a carga para ir pra outra cidade que transformava a polpa em marmelada. Quando terminava a safra de marmelo aqui na região -Marmelópolis, Virgínia e Delfim – chegavam caminhões de marmelo do Uruguai e da Argentina . Também trabalhávamos com figo e pêssego que vinham de Valinhos.
Já, nos meses de Junho e Julho era época de laranjas. Nós as cortávamos pra tirar os gomos, ralávamos as cascas num grande ralador e, assim, as cascas iam pro tanque onde ficavam de molho uns três dias - período em que se trocava a água para eliminar o amargo da casca e realizava uma fervura. Só depois desse processo, colocava-se o açúcar para fazer a compota de casca de laranja. Era uma delícia! Depois da laranja, vinham os caminhões de ervilha : as bainhas iam para a esteira, onde debulhávamos e preparávamos os grãos para a fervura num tacho de salmoura. Depois iam para as latas para colagem dos rótulos.
E o serviço não tinha fim. Logo, chegavam os morangos nas caixas e nós , as mulheres, tirávamos os cabinhos de um em um e separávamos os bons que iam pro tacho pra fazer a tão famosa geleia de morango. De sábado pra domingo, tínhamos que atravessar a noite na fábrica para que, nasegunda-feira, pudéssemos trabalhar com outros carregamentos de frutas.
Com tanto serviço eu só voltava para casa de madrugada, lavava as roupas, descansava um pouco e já era hora de levantar pra preparar o café, arrumar as crianças que estudavam de manhã e ir pra mais um dia de luta, era muito cansativo... Na hora do almoço, comia correndo pra dar tempo de dar uma arrumada na casa, e olhar o dever das crianças. É, Sabrina, a vida antigamente não era nada fácil...
Nos dias de hoje melhorou bastante o salário , as pessoas têm mais conforto. A cidade também melhorou muito, agora tem mais habitantes, ‘tá’ mais movimentada... Delfim cresceu e junto com ela a minha saudade...

Entrevistada: Georgina Rosa de Souza, 63 anos

Autora : Sabrina de Souza Gusmão

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