terça-feira, 23 de julho de 2013

Visita ao Bairro Sertão Pequeno

O Sertão do Pequeno


O Sertão do Pequeno- esse é o nome original do lugar que se localiza entre o Cubatão e as serras da Joana Ferreira. Pequeno era o apelido de um senhor baixinho que morava lá no sertão.
As primeiras famílias povoaram o bairro ainda no século XIX, mais tarde os Cândidos, os Souzas, os Tavares, os Peres, os Nogueiras e os Alípios vieram povoar o Sertão do Pequeno.
Na década de 30 a população do Sertão pequeno ainda vivia de forma muito precária devido à distância da área urbana. A estrada só foi aberta nos anos 40, assim mesmo só ia até o bairro Chora – metade do caminho. O restante da estrada só foi aberto na administração do sr Benedito Rodrigues Ferreira, no ano de 1953.
Assim, a abertura da estrada trouxe a luz elétrica e o progresso. Mas por outro lado já não existem mais as plantações de marmelo, ameixa, pera e pêssego porque o êxodo rural levou os trabalhadores para outros lugares.
O tabaco também foi uma das produções mais intensas do bairro . O fumo de rolo foi ali trabalhado , através de um  processo penoso.
Era necessária a “destala” , que consiste na retirada do talo central da folha de fumo,antes de transformar a folha em corda.
O processo começava no campo,ali a folha era apanhada e pendurada, em andaimes para secar; estando no ponto, as folhas iam para destala.Trabalho demorado,que somente com a ajuda de vizinhos podia ser concluído. Assim, uns ajudavam aos outros.
Reunidos nas salas das casas, ao redor de uma fogueira ,para se afugentar do frio,os colaboradores rasgavam as folhas,que pelas mãos de uma pessoa experiente trabalhava cada pedaço o transformando em corda no cambitão , uma ferramenta usada para cochar o fumo.
No decorrer da noite, com o cansaço, servia-se o macaco,isso mesmo,era assim apelidado o bolo de fubá com café servido das destalas.
No dia seguinte, pegava-se os cordões de fumo, e enrolava num pau e gradava os ‘paus de fumo’ no porão para curar, para depois ser vendido.
Esse é um pequeno relato do trabalho dos moradores do bairro Sertão Pequeno e de tantos outros com cultura semelhante.
Ricardo Batista e Cláudia Fortes

 


  O Clima    

 Delfim Moreira é uma cidade de clima frio. Altitudes de mais de mil e setecentos metros, chegando a mais de dois mil em muitos pontos. No inverno, a geada é a grande novidade. Tudo se cobre de branco. Pastos e matas sofrem as alterações do inverno rigoroso.
      Quando  criança,sofri muito com o frio. A geada era bonita para se ver, mas dificultava ao extremo as tarefas diárias. Logo cedo, tratar dos porcos e, pior, buscar as vacas nos pastos. Estes viravam extensos lençóis brancos. À beira d’água, placas de gelo imitando vidro. Era o nosso picolé. Mesmo sofrendo com o frio, criança ainda encontra motivos de alegria... Com os pés rachados, sempre descalços, às vezes, até sangrando, enfrentava a geada na lida diária. Ao chegar junto das vacas, tocava-se e, rapidamente, ocupava-lhes o lugar quentinho, onde estavam deitadas.
   Calçados não tínhamos. Ganhei meu primeiro par de sapatos aos doze anos. Eram grandes e folgados para durarem bastante. Às vezes, calçava os pés trocados e nem percebia. Ficava uma figurinha rara, motivo de riso para os mais velhos.
       A geada matava tudo de um dia para outro. Plantações inteiras de fumo eram perdidas. Com a chegada do sol, as lindas folhas verdes e promissoras se tornavam, pouco a pouco, negras. Todo o trabalho de meses, por vezes, estava perdido. Para salvar alguma coisa, colhia-se tudo, às pressas, com prejuízo da qualidade. Fumo  de terceira categoria. Comprador levava fiado, por caridade, mas muitas vezes não pagava. Mas o que de bom poderíamos esperar do fumo? Nada, absolutamente nada. Só mesmo desgraça. Fumo acaba com a saúde: mancha a pele, encarde as mãos, intoxica os pulmões, contamina os outros de mata.
      Mas a geada que, aparentemente, só trazia desgraças, não era totalmente má. O frio hiberna as árvores. Muitas, como peras, pêssegos e marmelos precisam de muitas horas de frio para produzir melhor. Logo após o inverno, vinham folhas novas  e a florada exuberante, sinal de fartura. Os mais velhos sempre diziam, que ano de muito frio, sinal de colheitas abundantes. Era, realmente, verdade. Se a geada levava o fumo e suas desgraças, também renovava a natureza e a preparava para  maiores riquezas e benefícios futuro.
Memórias de Afonso Peres















Imagens: Camila Sapucci.

Nenhum comentário:

Postar um comentário